Parece que os estrangeiros na Cidade Olímpica, quando diante de pequenos problemas inexplicáveis, dizem simplesmente This is Brazil. Foi por isso que adorei ver a música do Ary Barroso cantada na maravilhosa cerimônia de abertura. Porque essa beleza que o mundo assistiu, aquele espetáculo de alegria, emoção, diversidade e criatividade, well, this is Brazil também. Ali, diante do mundo, o que me deu orgulho não foi só a competência da festa, mas a autenticidade brasileira. Fomos o Brasil por inteiro. Fizemos bonito mostrando nossa essência sem maquiagem. Exibimos nossa cultura, nossa miscigenação e nossa capacidade criativa, mas denunciamos o extermínio indígena e expusemos nossa vergonha por sermos os últimos a abolir a escravidão. Tivemos o luxo carnavalesco em uma festa plebeia, com uma mulher nordestina carregando a bandeira do Brasil e uma transexual puxando a delegação brasileira, e artistas e voluntários subindo arquibancadas e se misturando com o povo. Fizemos, sem dúvida, uma das festas mais inovadoras e, quem diria, politizadas da história.
Mas, ela não mascara nada, nem ilude ninguém. Nossos problemas são reais e continuarão existindo. Os que aplaudiam quando os Jogos eram de Lula agora gritam "Fora Temer!". Mas, se temos muitos bandidos no Brasil, a graça da Olimpíada é que ela nos dá a chance de torcer para os mocinhos: nossos atletas, cidadãos brasileiros, que também sofreram pelo preconceito, pela desigualdade social ou pela falta de estrutura esportiva nas escolas públicas. Quem conhece um colégio ou universidade americana sabe que cada medalha brasileira é heroica. E, por isso mesmo, a escolha de Vanderlei Cordeiro foi perfeita: como disse uma amiga minha, um exemplo de que não precisamos ser ouro, mas temos sempre que dar o nosso melhor sem nunca perder a dignidade e a alegria. Porque, como brasileiros, nosso traço mais marcante, na vida ou nos esportes, não é a vitória, sempre foi a superação.
E se algo mais podemos guardar de legado da cerimônia de abertura, que seja a obra de um gênio pouco valorizado até no Brasil, o 14-Bis de Santos Dumont, sobrevoando o céu como símbolo de um país que temos potencial para ser, mas ainda não somos. E se um dia seremos, será pelo que a festa tornou evidente: pela nossa criatividade, alegria, diversidade e capacidade de improvisação. A você, que adora falar mal do seu país, sinto dizer, mas apesar da corrupção, da violência e de todas as nossas mazelas, nós somos este Brasil que canta e é feliz. E é por isso que ainda podemos ter esperança.