Nos governos FHC e Lula, a economia brasileira mostrou progressos significativos. Tudo começou com a erradicação da hiperinflação, que melhorou o ambiente econômico e reduziu a desigualdade. Depois veio a abertura da economia à competição externa, que elevou a produtividade da indústria nacional, acostumada a ter os brasileiros como seu mercado cativo. Tivemos ainda as privatizações/concessões e o fim do monopólio da Petrobras, medidas que também melhoraram a eficiência produtiva e impulsionaram o crescimento. Criamos programas inteligentes e baratos de transferência direta de renda, como a Bolsa Escola, a Bolsa Alimentação e o Auxílio-Gás, posteriormente, unificados e ampliados sob no nome de Bolsa Família, gerando uma nova onda de redução da desigualdade.
A política econômica era pautada por um arranjo similar ao utilizado nos países desenvolvidos (tripé macroeconômico), com flutuação do câmbio, metas de inflação e geração de um superávit primário que estabilizasse a dívida pública. O tripé conseguiu lidar com diferentes crises (em 2001, 2003 e 2009), permitindo que economia se recuperasse rapidamente.
Com a Carta aos Brasileiros, a reforma na Previdência dos funcionários públicos e a manutenção do tripé, a gestão Lula potencializou os ganhos obtidos. A transição política sem ruptura de contratos e sem mudanças na condução macroeconômica gerou mais credibilidade e possibilitou uma nova onda de avanços. Houve um alongamento ainda maior do horizonte de planejamento de empresas e famílias, com consequências positivas sobre o crédito. Com a ajuda do crédito consignado, a estabilidade/credibilidade macroeconômica gerou uma expansão de crédito que impulsionou o crescimento. Em um ambiente mais estável e competitivo, a agropecuária deslanchou.
Fomos ajudados pela sorte. O forte crescimento dos preços de commodities contribuiu, como um choque positivo de demanda, para alavancar o crescimento. Mas não foi só sorte. Por cerca de 14 anos o país implementou um conjunto de medidas que propiciaram melhorias de bem-estar social.
Mas tinha uma Dilma no meio do caminho. No meio do caminho tinha uma Dilma. Já no final do governo Lula, em 2009/10, o país começou a flertar com uma política econômica alternativa. Mas esse flerte se concretiza em definitivo no governo Dilma. Era a tentativa de acelerar os avanços através de um projeto "desenvolvimentista" batizado de Nova Matriz Econômica (NME). Por um lado, o governo relativizou o combate à inflação, implementou o controle direto de tarifas públicas (energia e combustíveis), expandiu de forma inconsequente o déficit público e aumentou demasiadamente a intervenção no mercado de câmbio. Isto é, na prática, desmontou o tripé macroeconômico. Por outro lado, abandonou as políticas públicas horizontais, que beneficiam a economia como um todo, em favor de políticas setoriais, como reduções tributárias localizadas e expansão dos empréstimos direcionados e subsidiados via BNDES. Voltamos a fechar a economia com as regras de "conteúdo nacional" e aumentamos o dirigismo estatal em setores estratégicos com os novos marcos regulatórios do pré-sal e do setor elétrico.
O fracasso foi tão retumbante que até mesmo aqueles que defendiam a NME, no início do governo Dilma, são, atualmente, críticos da presidente. O fracasso é órfão. Ou, como se diz em Minas, "filho feio não tem pai". Antes, eram muitos os defensores da NME: empresários que se beneficiaram das políticas setoriais, economistas heterodoxos bem intencionados que creem no Estado como indutor do desenvolvimento e parte da classe média que acredita que "um outro mundo é possível".
Vai demorar em arrumar tudo o que foi desarrumado nos últimos cinco anos. Pior, temos ainda os desafios estruturais que não herdamos de Dilma, como a reforma da Previdência. Não sei ao certo se Temer será capaz dessa tarefa. Torço que sim. Pelo menos paramos de andar no sentido errado. Termino com a frase que ouvi recentemente de uma economista venezuelana falando sobre a economia do seu país antes e depois do Chavismo: "Éramos felizes e não sabíamos".