A linha entre o engraçado e o ridículo costuma ser muito tênue na política. Na tentativa de descontrair, de deixar o espírito carioca falar mais alto, Eduardo Paes falou bobagem. A manchete de domingo do jornal The Sidney Morning Herald diz polidamente: "Prefeito do Rio oferece canguru na Vila Olímpica para os atletas australianos". Mas a verdade é que a resposta do prefeito, depois que a delegação da Austrália se recusou a ficar nas instalações, pelas péssimas condições encontradas, foi bem pior: "Estou quase botando um canguru na frente do prédio deles, para ficar pulando e eles se sentirem em casa". Mike Tancred, diretor do comitê olímpico australiano, respondeu apenas que não precisavam de cangurus, e sim de encanadores. E de pintores, eletricistas e um pedido de desculpas, digo eu. Privada quebrada, torneiras sem água, fios elétricos expostos, vazamentos, sujeira. Foi assim que os atletas foram recepcionados. Minimizar as queixas já seria errado. Responder jocosamente a uma equipe de alto nível, que deveria ser tratada com cuidado e carinho é, no mínimo, uma grosseria. Onde está a graça de usar um canguru para tentar desfazer o mico? Vamos combinar que é um péssimo momento para se fazer piada, quando o mundo olha para o Brasil com medo da insegurança, da zika, da superbactéria e da nossa conhecida desorganização nacional. Além disso, qual o problema de admitir o erro, pedir desculpas e consertar a mancada? Por que os políticos acham que precisam ser infalíveis, justo eles que erram aos borbotões? Não percebem que isso também os distancia da população?
É bom lembrar que os atletas não têm culpa de nada, e merecem nosso apoio e entusiasmo. É preciso que saibamos curtir a Olimpíada como se ela não fosse em nosso país, porque fica evidente que o Brasil subestimou a complexidade do evento, muito maior do que uma Copa do Mundo, que tem só um esporte, um tipo de arena e apenas 32 países. Quando conquistamos o direito de fazer a Olimpíada, ela seria um momento único para fortalecer nossa imagem internacional. Hoje corremos o risco de acontecer exatamente o contrário, por negligência, violência urbana e sem-vergonhice. O problema do Brasil não é pensar grande, mas ter sonhos de grandeza e cotidiano de pequeneza.