Os procuradores da Operação Lava-Jato já revelaram que a empreiteira Odebrecht tinha um departamento especializado em pagamento de propinas para abastecer partidos da situação e da oposição _ estratégia que possibilitou à organização baiana, com atuação em quase 30 países, manter-se íntima do poder no Brasil durante várias décadas. Por isso, há um pânico generalizado da classe política, incluindo integrantes do governo interino e do governo afastado, com a perspectiva de divulgação do acordo de colaboração premiada do empresário Marcelo Odebrecht, preso há um ano e condenado a 19 anos e quatro meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa.Prometida em março pela empreiteira, depois de esgotados os recursos e as articulações políticas para livrar seus executivos da prisão, a revelação que o ex-presidente José Sarney classificou como "uma metralhadora de ponto 100" poderá atingir mais de 300 políticos de 22 partidos beneficiados pela construtora. A própria empresa, em nota oficial, informou que tratará de "um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral do país".Ainda que devam ser tratados com reservas os vazamentos divulgados até agora, pois alguns têm o evidente propósito de influenciar o processo de impeachment em andamento no Senado, não há como ignorar o impacto dessa negociação que levou o próprio juiz Sergio Moro a suspender por 30 dias as ações penais referentes ao caso. O que se pode desejar dessa delação das delações, como está sendo chamada, é que venha acompanhada de provas concretas, para que os beneficiários da propina sejam devidamente responsabilizados e esse esquema pernicioso de fazer política e negócios lesivos à sociedade seja definitivamente desmontado no país.
Editorial
A delação definitiva
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