Além de sustentar milhares de pessoas em Porto Alegre, é do lixo que saem os produtos vendidos em vários estabelecimentos comerciais. Em uma loja na avenida Ipiranga, o vendedor Alex Farias explica que boa parte do material vendido vem da reciclagem.
“Temos lixeiras, sacos plásticos, muitas sacolas de diferentes tipos, baldes, potes. É muita coisa”, afirma.
No entanto, muitas pessoas que compram esses produtos das mãos do vendedor nem sequer separam o lixo seco do orgânico dentro de casa. Funcionário do setor de limpeza de um condomínio com 126 apartamentos no centro de Porto Alegre, Vanderlei Torres conta que ainda é comum encontrar todo o lixo misturado.
“A maioria separa. Mas tem uma parte que ainda não faz isso. Aí, aqui embaixo, nos contêineres, eu separo e deixo pronto para a coleta seletiva e para a coleta normal”, diz.
A coleta seletiva em Porto Alegre passa três vezes por semana em 19 bairros. O lixo é descarregado em 17 Unidades de Triagem (UTs) do programa de inclusão produtiva de reciclagem “Todos Somos Porto Alegre”, da prefeitura. São 800 pessoas empregadas, atualmente. A produtividade média de materiais triados por pessoa é de quase 3,5 toneladas por mês. Em 2015, foram comercializadas pelas unidades quase 9 mil toneladas de lixo.
“Eles trazem e a gente separa. Chegam todos os materiais recicláveis, como papelão, latas, garrafas, entre tantas outras coisas. A gente recicla, farda e eles são vendidos”, afirma Sirlei Souza, coordenadora da unidade no bairro Bom Jesus.
Uma das empresas que recebe o material das unidades é a Embapel, que fica no bairro Restinga. Lá é feita uma nova triagem e depois o lixo é encaminhado para as indústrias.
“A gente coleta nessas fontes de fornecimento, faz um tratamento, classificando, triturando e tudo mais que for necessário e entregamos em grande quantidade para a indústria. Por sua vez, a indústria vai fazer a reciclagem do papel, do vidro e do metal e transforma-los em novos produtos. O papelão vira caixa de novo, as folhas de ofícios viram papel higiênico, papel toalha, por exemplo; garrafas pets podem ser transformadas em tecido. A gente consegue dar um fim nobre para esses produtos que poderiam estar parando no lixo”, ressalta o gerente da empresa, Giovanni Moser.
Só que a falta de conscientização das pessoas faz com que muito lixo deixe de ser reciclado em Porto Alegre. O volume diário de recicláveis recolhidos pela coleta seletiva é de 122 toneladas. Outras 276 toneladas de lixo que poderiam ser reciclados, acabam indo para a coleta domiciliar e automatizada, porque a população não separa o material de forma correta.
Se essas 276 toneladas fossem colocadas no destino correto, poderiam gerar R$ 1,2 milhão a mais para as unidades de reciclagem por mês. Isso, consequentemente, aumentaria muito o número de empregos nesses locais.
“Hoje o grande desafiou que nós temos é de sensibilizar as pessoas e conseguir deixar a mensagem que a separação, além de um ganho ambiental, proporcionaria uma boa renda para famílias de baixíssima renda que dependem de maneira direta desses resíduos”, destaca o diretor do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), Gustavo Fontana.
O especial sobre a reciclagem segue amanhã, com reportagem sobre como o trabalho com o lixo modificou a vida de ex-carroceiros em Porto Alegre.