A crise financeira apresenta reflexos em trabalhos voluntários que visam ajudar os mais necessitados. Em um balanço feito com cinco grandes instituições beneficentes de Porto Alegre, a reportagem da Gaúcha constatou que a maioria apresenta uma redução de cerca de 30% nas doações. Das cinco, quatro confirmam dificuldades financeiras e relataram prejuízos no atendimento.
A Casa do Menino Jesus de Praga, que atende crianças e adolescentes de famílias carentes portadoras de lesão cerebral profunda e deficiência motora permanente, está trabalhando com intensa redução de custos para não prejudicar o atendimento aos pacientes. Segundo o diretor de Captação de Recursos, Viturugo Rinaldi de Miranda, houve queda de 30% nas doações desde o início do ano, a maioria obtida por meio de empresas.
"Acreditamos que muita gente tenha ficado desempregada e a primeira coisa que as pessoas lamentavelmente fazem, é deixar de contribuir. E isso tem afetado drasticamente a receita da instituição", disse.
Também com redução de cerca de 30% nas doações, a maioria delas oriundas de pessoas físicas, o Instituto Espírita Dias da Cruz começou a registrar a queda em abril deste ano. A instituição atende pessoas em situação de vulnerabilidade espiritual, social e econômica. O presidente Eder Geraldo Cardoso diz que a justificativa das pessoas é a dificuldade financeira e muitas continuam doando, mas em menor quantidade. Ele afirma que se a situação não melhorar, parte das atividades, como o albergue localizado no Bairro Azenha, serão encerradas até o final do ano.
"Se não houver um aumento, do jeito que está, estamos cogitando encerrar as atividades do albergue já no final do ano", afirmou.
A Associação Educacional Emanuel, que atende adultos com problemas físicos e mentais, foi a que apresentou maior percentual. Segundo a presidente Nara Ulguim, as doações chegaram a diminuir cerca de 45% desde janeiro deste ano.
"Para se ter uma noção, até uns cinco meses atrás nós alugávamos um frete para buscar as doações. Hoje só as kombis já conseguem trazer, e ainda sobra espaço", relatou.
A AACD, que promove a prevenção, habilitação e reabilitação de crianças e adultos com deficiência física, tem 27% do orçamento obtido através de doações, e diz que, neste ano, elas já caíram 12%. Há também uma expectativa de cenário ainda mais crítico para o fim do ano, já que a maioria dos doadores são empresas. Por enquanto, a queda foi maior entre doadores Pessoa Física.
O Lar Santo Antonio dos Excepcionais também relatou retração nas doações, mas, segundo esta entidade, ainda não há impacto no orçamento.