As manifestações contra os nordestinos nas redes sociais ganharam força no domingo do segundo turno da eleição presidencial, em 26 de outubro. A torrente raivosa foi provocada pelo bom desempenho de Dilma Rousseff, candidata do PT à reeleição, nos Estados do Nordeste e motivou um pedido de investigação feito pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
A psicóloga Caroline Martini Kraid Pereira avalia que as redes sociais potencializam as manifestações de ódio exatamente por não contarem com o filtro que a convivência propicia. "Nas redes sociais, a gente tem condições de falar as coisas sem estar olhando no olho do outro. Sem ter noção do que vai repercutir no outro. Quando a gente conversa frente a frente, vai vendo a partir da reação da pessoa se está conseguindo que ela entenda. Tem essa parte empática da relação. Na rede social isto não existe", analisa.
No Censo de 2010, 30.634 moradores do Rio Grande do Sul declararam ter nascido em um dos nove Estados do Nordeste. Com 50 anos, o professor universitário Carlos André Bulhões Mendes já trabalhou no Rio de Janeiro, Inglaterra e Estados Unidos. O alagoano vive em Porto Alegre há 26 anos. Ele veio para a Capital fazer o mestrado e decidiu ficar.
Carlos avalia que o exibicionismo esteja na base da postura preconceituosa de alguns internautas. "Muitas vezes o agressor quer ganhar notoriedade", avalia.
O professor afirma já ter ouvido algumas piadas dentro e fora do ambiente acadêmico, mas procura levar a situação na brincadeira. "Dentro do limite do bom senso e de uma certa tolerância, eu particularmente nunca senti maiores preconceitos", reflete
O cearense Dinardo dos Santos, de 23 anos, mora na Capital gaúcha desde 2011. Chegou a Porto Alegre após ter vivido em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Curitiba. Trabalhando na construção civil, destaca nunca ter sido vítima de preconceito. Ele pretende ficar no Estado por mais alguns anos.
"Eu vim atrás de uma melhora na minha vida, né? Aqui ganha bem. Aqui ganha melhor do que lá. O negócio aqui tá bom demais", festeja.
A Polícia Federal vai investigar quem são os responsáveis por dois perfis em redes sociais que ofenderam nordestinos na semana passada. O pedido de apuração foi feito pela OAB com base na Lei de Racismo, que considera crime a discriminação por procedência nacional. A entidade também pediu para que o cidadão que se sinta ofendido ou que testemunhe atos de preconceito denuncie ao Ministério Público Federal.