O filho de Eliane começou a usar drogas ainda na passagem da infância para a adolescência. Com 12 anos, experimentou maconha. Depois passou para a cocaína e por último, o crack. Com o passar o tempo, Eliane começou a perceber mudanças no comportamento do filho. “Ele começou a mudar gosto de música. O vestuário mudou completamente. Mudou o gosto musical. Passou a gostar de RAP, aqueles bem contra a Polícia”, destaca Eliane.
O fundo do poço foi aos 15 anos, quando já vendia roupas para sustentar o vício e convivia com traficantes. Num sábado, há cerca de dois anos, o filho de Eliane saiu para comprar um lanche e voltou somente no outro dia, ainda sob o efeito dos entorpecentes. “Ele gostava de roupa boa, de marca. Então ele começou a se desfazer de roupas dele. Ele dizia que emprestava para outras pessoas. Os tênis que ele usava custavam R$ 600,00. E os tênis nunca voltavam pra casa”, lamenta Eliane.
Atualmente, o filho de Eliane está com 18 anos de idade e 3 anos sem usar drogas em razão de tratamento realizado em comunidade terapêutica. A luta de Dulce é um pouco mais longa que a de Eliane. Foram 10 anos tentando combater o vício do filho em cocaína. Com 15 anos, ele começou a dar problemas na escola. Alguns anos depois, a causa foi conhecida.
“Com 19 anos a gente acabou descobrindo, porque ele pegou um cheque para descontar do meu décimo terceiro e gastou o dinheiro. Ao chegar em casa a gente pressionou ele para saber o que ele tinha feito com o dinheiro. Aí ele contou que era usuário de drogas e que queria ajuda. Isso a gente descobriu no dia 22 de dezembro de 1995. Quando foi no dia 30, ele já estava internado”, recorda Dulce.
O filho de Dulce foi internado e recaiu várias vezes. Atualmente, com 38 anos de idade, está há alguns anos sem consumir drogas e inclusive coordena uma comunidade terapêutica no interior gaúcho para ajudar outros dependentes químicos. Dulce e Eliane estão entre os 28 milhões de brasileiros que possuem algum familiar dependente químico.
Conforme levantamento feito pela Universidade Federal de São Paulo em 25 capitais brasileiras, entre 2012 e 2013 com 3.142 famílias de dependentes, o Brasil possui mais de 8 milhões de viciados em maconha, cocaína e seus derivados e álcool. O psiquiatra do Hospital Mãe de Deus e Conselheiro da Associação Brasileira de Estudo do Álcool e outras Drogas, Carlos Sampaio, lembra que a família é imprescindível no tratamento dos usuários de drogas.
“A relevância da família é fundamental, tanto na perspectiva do sujeito ter o problema dependência química, numa questão de hereditariedade. Mas também na hora de intervir e reconhecer os problemas com álcool e outras drogas, a família sempre é o grande núcleo de preservação da saúde”, ressalta Sampaio.
A idade média do dependente químico é 31 anos e oito meses. A maior parte é de homens. Três em cada dez possuem ensino superior incompleto ou completo, segundo levantamento da Unifesp. A partir da descoberta da família, o tempo médio para buscar ajuda é 3 anos. Além das comunidades terapêuticas, Dulce e Eliane, aquelas ouvidas no início da reportagem, buscaram ajuda em grupos de apoio, como o Amor Exigente, que existe em diversos locais do Brasil.