O governo de Cuba anunciou que trabalhava para restabelecer o serviço elétrico, após uma falha na principal termoelétrica da ilha que provocou um apagão nacional na quarta-feira.
"Foi solucionado o controle automático da válvula que causou a desconexão" do sistema elétrico nacional, disse Román Pérez Castañeda, subdiretor técnico da central Antonio Guiteras, a maior do país, localizada na província central de Matanzas.
O apagão, que ocorreu na madrugada desta quarta-feira, foi o terceiro em menos de dois meses no país de 10 milhões de habitantes.
Segundo as autoridades, o serviço começou a ser restabelecido durante o dia por meio de circuitos independentes nas 15 províncias do país, que inicialmente serviram para manter os hospitais em funcionamento.
Durante a noite, várias termoelétricas do país foram reconectadas ao sistema nacional, para fornecer 880 MW, que correspondem a 26% da demanda na ilha.
Em Havana, 360.000 clientes tinham energia elétrica em suas casas, o que representa metade das residências da capital de dois milhões de habitantes, informou a imprensa estatal.
A termoelétrica Antonio Guiteras, que provocou a desconexão total na ilha, ainda não havia começado a produzir energia.
Algumas horas antes, o presidente Miguel Díaz-Canel disse que espera um "bom progresso" na recuperação do serviço durante o dia.
"Os companheiros do Ministério de Minas e Energia de Cuba e da empresa elétrica nacional UNE trabalham incansavelmente e com precisão na reconexão", afirmou Díaz-Canel em sua conta no X.
- "A gente se deprime" -
Orlando Matos, um vigia que estava de plantão quando o apagão começou, reclama que a crise energética "não dá respiro". "Vivemos em aflição", desabafou.
Osnel Delgado, um bailarino de 39 anos, diz ao lado de sua esposa, também bailarina: "A gente tenta se superar o tempo todo nessa situação, mas quando o ambiente não ajuda, você acaba não querendo fazer nada. A gente se deprime".
A falha ocorreu após outro corte generalizado em 6 de novembro passado, quando o furacão Rafael provocou uma queda no sistema que durou vários dias.
Somente algumas semanas antes, em 18 de outubro, outra falha na mesma termoelétrica, localizada na província de Matanzas, vizinha de Havana, causou um apagão nacional de quatro dias.
Além dos apagões, dois furacões e um terremoto atingiram a ilha nesta temporada ciclônica, causando oito mortes e numerosos danos materiais.
- "Sistema energético frágil" -
A emergência energética ocorre no momento em que está previsto para esta quarta-feira em Havana um encontro entre autoridades dos Estados Unidos e de Cuba para revisar os acordos bilaterais em matéria migratória, a última reunião desta natureza do governo de Joe Biden.
O governo cubano tem afirmado reiteradamente que a crítica situação econômica e energética que afeta o país se deve ao embargo econômico imposto por Washington há mais de seis décadas. O bloqueio foi endurecido durante o primeiro governo de Donald Trump (2017-2021), sem que seu sucessor tenha flexibilizado, em geral, as sanções.
O país conta com um sistema desgastado de oito termoelétricas obsoletas, que exigem manutenção constante. Além disso, o sistema inclui geradores elétricos e algumas plantas flutuantes de geração de eletricidade que Cuba aluga de empresas turcas; ambas as tecnologias são alimentadas por combustíveis que a ilha precisa importar devido à escassez.
Desde os dois apagões anteriores, a população passa muitas horas sem eletricidade, em algumas províncias quase o dia inteiro, devido ao déficit crônico na geração de eletricidade.
Em setembro de 2022, a ilha já havia enfrentado um apagão generalizado devido ao furacão Ian.
Cuba vive sua pior crise econômica em trinta anos, em meio à escassez de alimentos, medicamentos, combustível e com uma inflação galopante.
* AFP