Os presidentes dos Estados Unidos e da China alertaram, nesta sexta-feira (15), que o mundo entrará em uma era de "mudanças" e "turbulências" com o retorno de Donald Trump, no contexto de uma cúpula Ásia-Pacífico realizada em Lima.
Joe Biden e Xi Jinping soaram o alarme antes do último encontro cara a cara que terão neste sábado, antes da volta do magnata republicano à Casa Branca em janeiro.
Xi alertou sobre "a propagação do unilateralismo e do protecionismo", em mensagem direcionada aos parceiros da aliança, conforme citado pela agência estatal chinesa Xinhua.
Ao mesmo tempo, ele considerou que a "fragmentação da economia mundial" está em alta e destacou que o mundo enfrenta uma fase de "turbulências e transformações".
Por sua vez, Biden afirmou que estamos diante de "um momento de mudança política significativa", ao término de seu último encontro com os líderes do Japão e da Coreia do Sul, em Lima.
O retorno de Trump está no centro das preocupações após ele ameaçar elevar as tarifas sobre todas as exportações para os Estados Unidos, chegando a 60% no caso da China e a 25% para o vizinho México.
Durante seu primeiro mandato, o republicano intensificou a guerra comercial entre as duas superpotências, e a promessa de campanha gera temores de que a disputa se aprofunde ainda mais.
Isso representaria um duro golpe para as 21 economias do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), que responde por 60% do PIB global e mais de 40% do comércio mundial.
"Nosso fórum pode hoje fortalecer a cooperação multilateral" em um momento em que "os níveis de incerteza sobre o futuro imediato estão aumentando", declarou, por sua vez, a presidente do Peru, Dina Boluarte.
- "Cooperação perigosa" -
No encerramento da cúpula, neste sábado, Xi e Biden terão um encontro bilateral, que ocorrerá em meio a tensões pelo apoio da China à Rússia na guerra contra a Ucrânia.
Nesse contexto, Biden chamou a atenção nesta sexta-feira para a "cooperação perigosa e desestabilizadora" entre a Coreia do Norte e a Rússia.
Por enquanto, é crucial que os presidentes dos Estados Unidos e da China "conversem e vejam se conseguem, ao menos, diminuir as tensões" entre os dois países, comentou à AFP Jorge Heine, professor de relações internacionais da Universidade de Boston.
O presidente russo, Vladimir Putin, enviou um delegado à cúpula da Apec.
Biden e Xi voltarão a se encontrar na cúpula do G20, na próxima segunda e terça-feira, no Brasil.
A vitória de Trump ofuscou a despedida de Biden da cena internacional e até "colocou em compasso de espera" a aliança Ásia-Pacífico, disse Heine, ex-embaixador do Chile na China entre 2014 e 2017.
Heine não descarta que Trump retire os Estados Unidos da Apec, como fez em 2017 ao abandonar o Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP), que visava criar um poderoso bloco.
Em meio aos alertas de Xi e Biden, os demais membros do fórum pretendem aproveitar o encontro em Lima para delinear suas posturas diante de Trump.
Sua volta ao poder se apresenta tensa, ainda mais com a nomeação de "falcões" republicanos como o senador Marco Rubio para o cargo de Secretário de Estado.
Rubio defende uma postura linha-dura contra Pequim. "Estamos vivendo tempos difíceis na relação entre China e Estados Unidos", ressaltou Heine.
A cúpula da Apec já foi palco de um primeiro embate entre Washington e Pequim, após a inauguração, na quinta-feira, do megaporto de Chancay, o primeiro da China na América do Sul.
A obra, na qual Pequim investirá um total de 3,5 bilhões de dólares (cerca de R$ 20 bilhões, na cotação atual), reduzirá em dez dias o transporte marítimo entre a China e o Peru, segundo Xi, que definiu o projeto como o "primeiro porto inteligente e verde da América do Sul".
Enquanto o presidente chinês inaugurava a obra, o enviado especial da Casa Branca para a América Latina, Brian Nichols, pediu aos países latino-americanos que garantam que o investimento do gigante asiático respeite "as leis locais" e proteja "os direitos humanos e o meio ambiente".
* AFP