A organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF) denunciou nesta sexta-feira (26) o desaparecimento há duas semanas da jornalista nicaraguense Fabiola Tercero, em meio a uma "onda de repressão contra a imprensa" opositora na Nicarágua por parte do governo de Daniel Ortega.
Tercero está "em paradeiro desconhecido" desde 12 de julho, quando "a polícia entrou à força" em sua casa em Manágua e confiscou seu computador e material de trabalho, afirmou a RSF em comunicado.
De acordo com a ONG, Tercero, uma comunicadora em plataformas virtuais e grupos feministas, estava submetida à "prisão domiciliar e à obrigação de se apresentar diariamente em uma delegacia de polícia" e a "explicar" o que aconteceu com ela.
Seu desaparecimento ocorre "em meio a uma nova onda de repressão contra a imprensa nicaraguense", disse a RSF, que também pediu às autoridades "que cessem a perseguição de jornalistas" e a "censura desenfreada".
Segundo a RSF, que cita fontes na Nicarágua, o governo de Ortega "intensificou a repressão contra os poucos jornalistas independentes que permanecem no país".
"A polícia faz buscas em suas residências sem ordem judicial", indicou a entidade, que também afirmou que os jornalistas e seus familiares são interrogados, seus telefones são revistados e seus dispositivos eletrônicos são "confiscados". Além disso, eles são obrigados a se reportar diariamente às autoridades.
"A informação que recebemos dos jornalistas nicaraguenses é devastadora, parece um filme de terror. O assédio que Ortega impõe continua a apertar o cerco ao pouco que resta de jornalismo no país", disse Artur Romeu, diretor da RSF para a América Latina.
A RSF aponta que o governo intensificou as ações contra opositores e críticos após os protestos contra Ortega em 2018, que, segundo a ONU, resultaram em mais de 300 mortes, centenas de detidos e milhares de exilados.
O governo de Ortega afirmou se tratar de uma tentativa de golpe de Estado patrocinado pelos Estados Unidos e afirma que muitos jornalistas servem a "interesses estrangeiros".
A Fundação pela Liberdade de Expressão e Democracia (Fled), baseada em San José, contabiliza 263 comunicadores nicaraguenses exilados desde 2018, principalmente na Costa Rica e nos Estados Unidos.
Em abril de 2023, o jornalista nicaraguense Víctor Ticay "foi preso arbitrariamente e condenado a oito anos de reclusão por cobrir um ato religioso", lembrou a organização.
A Nicarágua ocupa a 163ª posição de 180 países no ranking de liberdade de imprensa da RSF e se encontra no grupo de "situação muito grave", ao lado de Rússia, China, Coreia do Norte e Afeganistão, estando apenas acima de Cuba na América Latina.
* AFP