A Igreja Católica pediu, nesta segunda-feira (22), ao governo do Peru que cumpra com sua obrigação de proteger as crianças de comunidades indígenas que denunciaram ser vítimas de abuso sexual por parte de professores na região amazônica.
"Apelamos ao Ministério Público e ao Poder Judiciário para que investiguem a verdade, protejam as vítimas e punam, exemplar e rapidamente, os responsáveis por estes atos execráveis", diz um comunicado dos bispos da Conferência Episcopal.
"Como Bispos do Conselho Permanente, convocamos o Estado e a sociedade civil a agir com determinação contra o abuso sexual das meninas Awajún, que reflete a não aplicação das medidas de proteção que o Estado peruano se comprometeu e deve oferecer conforme o disposto na Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas", acrescenta o comunicado.
O presidente do Conselho de Ministros, Gustavo Adrianzén, anunciou em 17 de junho que seriam investigadas as denúncias de abuso sexual contra centenas de estudantes indígenas por parte de professores na região do Amazonas.
Os abusos e estupros teriam começado em 2010 e envolvem meninas e adolescentes da etnia nativa Awajún que estudam em escolas públicas da província de Condorcanqui, no norte do Peru, próxima ao Equador. Suas idades são desconhecidas.
A presidente do Conselho de Mulheres Awajún, Rosemary Pioc, assinalou que os casos chegavam a 524 e envolvem tanto meninos quanto meninas.
Segundo Pioc, os atos foram cometidos nos últimos 14 anos em albergues (residências) estudantis.
A dirigente já tinha revelado esses casos em 30 de maio, quando compareceu às autoridades educativas. No entanto, a reação de alguns ministros que atribuíram os abusos a "práticas culturais" provocou indignação na população.
"Se é uma prática cultural [...] para exercer uma forma de construção familiar com as meninas, vamos ser muito prudentes, mas também vamos exigir uma resposta da comunidade", disse o ministro da Educação, Morgan Quero, no início de junho.
A ministra da Mulher, Ángela Hernández, colocou mais lenha na fogueira quando indicou que "se trata, efetivamente, de práticas culturais que devemos banir", após o que recomendou que adiassem as relações sexuais ou as praticassem com preservativo.
Por esses casos, 111 professores foram afastados das salas de aula, 72 foram absolvidos e quatro foram suspensos temporariamente, assinalou Pioc.
* AFP