Milhares de pessoas compareceram nesta quinta-feira (11) às cerimônias que marcam o 29º aniversário do massacre de bósnios muçulmanos em Srebrenica, ocorrido em julho de 1995, um genocídio ao qual a ONU decidiu há dois meses dedicar um dia internacional em memória.
Durante as cerimônias, as autoridades realizaram os funerais de 14 pessoas assassinadas no massacre, que ocorreu quando as forças sérvias da Bósnia-Herzegovina invadiram Srebenica e mataram 8.000 adolescentes e homens muçulmanos.
Estas vítimas, cujos restos foram encontrados e identificados em 2023, foram sepultadas junto a outros 6.751 mortos pelo massacre que descansam no Memorial de Potocari, nos arredores de Srebrenica.
Kada Sikovic chorou ao enterrar os restos de seu marido, Musan.
Os investigadores encontraram fragmentos do osso da mandíbula de Musan em 2010, mas ela não se sentia preparada para sepultá-lo, até que mais restos foram localizados no ano passado.
"Graças a Deus encontramos alguns de seus ossos", disse à AFP.
Em 11 de julho de 1995, meses antes do fim da guerra da Bósnia (1992-95), as forças sérvias da Bósnia-Herzegovina entraram em Srebrenica - uma zona protegida por capacetes azuis da ONU que abrigava dezenas de milhares de deslocados - e mataram quase 8.000 adolescentes e homens muçulmanos.
O crime, o maior massacre registrado na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial, foi classificado como genocídio pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII) e pela Corte Internacional de Justiça (CIJ).
"Quando chega julho é difícil. Eles acabaram assim apenas porque tinham um nome (muçulmano)", disse Mevlida Hasanovic enquanto rezava ao lado do túmulo do seu primo, que tinha 18 anos quando foi assassinado.
Hasanovic, de 54 anos, perdeu vários parentes do sexo masculino no massacre, incluindo o pai e o marido. Ela ainda espera "ao menos um osso" de um irmão para ser enterrado, disse à AFP.
"As almas sabem que estamos aqui com eles. Quando eu chego aqui, sinto como se tivéssemos acabado de nos separar em Srebrenica", acrescentou.
A Assembleia Geral da ONU decidiu em maio que 11 de julho é o "Dia Internacional de Reflexão e Memória do Genocídio de Srebrenica de 1995", uma resolução que foi criticada pela Sérvia e por políticos sérvio-bósnios, que questionam a classificação do massacre como genocídio.
Milorad Dodik, que preside a entidade dos sérvios da Bósnia, afirmou que não vai reconhecer a resolução. Nesta quinta-feira, no entanto, ele expressou sua solidariedade aos parentes das vítimas.
"Independente de nossas diferenças, devemos mostrar respeito pela dor e pelo sofrimento que muitas pessoas de todas as nações e religiões sofreram na Bósnia-Herzegovina", escreveu na rede social X.
Um tribunal da ONU condenou à prisão perpétua o líder político sérvio-bósnio Radovan Karadzic e o comandante militar Ratko Mladic por crimes de guerra, incluindo o genocídio de Srebrenica.
- Desaparecidos -
Quase 30 anos após o genocídio, 6.988 vítimas do massacre foram sepultadas, embora muitos restos mortais tenham sido encontrados incompletos, já que para encobrir o crime, as forças sérvio-bósnias transferiram os corpos de uma vala comum para outra.
Os restos mortais foram encontrados em "87 valas comuns e continuamos procurando quase mil pessoas", declarou à AFP a porta-voz do Instituto para os Desaparecidos da Bósnia.
A União Europeia, um bloco ao qual a Bósnia-Herzegovina aspira integrar, considera o massacre "um dos momentos mais sombrios da história europeia moderna".
A negação do genocídio de Srebrenica e de outros crimes de guerra, assim como a glorificação de criminosos de guerra, podem ser punidas desde 2021 com cinco anos de prisão, mas até o momento nenhuma condenação foi proferida.
As cerimônias de recordação começaram na segunda-feira com uma marcha de 100 km até Srebrenica. A caminhada começou em Nezuk, cidade onde chegaram os primeiros sobreviventes, alguns dias após o massacre.
A guerra da Bósnia entre 1992 e 1995, que envolveu croatas, muçulmanos bósnios e sérvios, deixou quase 100 mil mortos.
Quase três décadas após o fim do conflito, as divisões étnicas nos países dos Bálcãs continuam profundas.
* AFP