O presidente da República Dominicana, Luis Abinader, consolidou seu poder após sua reeleição no domingo por ampla margem, o que legitima suas políticas econômicas e especialmente suas medidas contra a migração do Haiti.
Na tarde desta segunda-feira (20), com 54,31% dos votos apurados, Abinader concentrava 57,46% da preferência do eleitorado, 28 pontos percentuais acima do mais próximo de seus oito rivais, o ex-presidente Leonel Fernández (28,84%).
O Haiti, país com o qual a República Dominicana compartilha a ilha caribenha de Hispaniola, foi um tema obrigatório na primeira coletiva de imprensa do presidente reeleito após a votação de domingo, à espera da intervenção de uma força multinacional diante da violência descontrolada na empobrecida nação vizinha.
"Estamos em coordenação com os países que estão interagindo no caso do Haiti", expressou Abinader em uma coletiva de imprensa. "Precisamos saber quando essas forças chegarão e as consequências que isso terá [...] Estamos preparados para qualquer eventualidade", declarou.
O Haiti está mergulhado no caos em um momento em que gangues criminosas controlam boa parte de seu território.
O governante, que iniciará seu segundo mandato de quatro anos em 16 de agosto, também viu seu poder reforçado no Congresso, onde seu Partido Revolucionário Moderno (PRM) e seus aliados obtiveram amplas vantagens.
No Senado, de acordo com os resultados parciais, dominam em 24 das 32 províncias, incluindo as fronteiriças.
"É um grande endosso de poder", disse à AFP Nelson Espinal, especialista em Disputas Públicas da Universidade de Harvard. "Se consolida, se fortalece, é um grande poder".
Os Estados Unidos, seu principal parceiro comercial, parabenizaram Abinader. "Esperamos trabalhar com sua administração para continuar fortalecendo nossa parceria vital", publicou no X Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado.
- 'Muito vigilante' -
"A política migratória influenciou na popularidade" de Abinader, indicou Espinal. "A situação do Haiti é tão desastrosa com esse Estado falido, que faz com que o povo dominicano se mantenha muito vigilante e cuidadoso sobre como se relacionar com o Haiti".
"A República Dominicana terá que investir muito para controlar uma imigração tão descontrolada", apontou Daniel Pou, cientista político e especialista em políticas públicas de segurança cidadã.
Desde que chegou ao poder em 2020, o mandatário impôs uma política linha-dura frente à migração haitiana: multiplicou as operações de captura de indocumentados e as deportações, reforçou a presença das forças armadas na fronteira e construiu um muro de 164 km entre os dois países, prometendo ampliá-lo neste segundo mandato.
"O povo falou com clareza... assumo a confiança que recebi e a obrigação de não decepcionar. Não falharei!", expressou Abinader a seus apoiadores após proclamar sua vitória na noite de domingo.
- Reforma constitucional -
As pesquisas já previam uma "reeleição confortável" para o período 2024-2028.
"Ouviu-se a palavra dos dominicanos aprovando o esforço que até agora realizamos no governo com honestidade, transparência e eficiência", celebrou Abinader, que chegou ao poder com um discurso anticorrupção.
Durante a eleição, no entanto, a oposição denunciou "compra massiva" de votos e cédulas pré-marcadas a favor do governo, o que foi negado. Cerca de 400 observadores internacionais acompanharam o processo.
Segundo as pesquisas, Abinader goza de uma aprovação de 70% por sua gestão da economia, com subsídios e mais empregos, e pela administração da pandemia de covid-19.
Agora, está previsto que Abinader apresente uma reforma fiscal com novos impostos, adiada há anos, e proponha uma reforma constitucional, sobre a qual não ofereceu detalhes.
No entanto, ele esclareceu no domingo que a questão da reeleição não será abordada: "Não voltarei a ser candidato, é minha palavra, é meu compromisso e será parte de meu legado à República Dominicana".
* AFP