Um tribunal de El Salvador emitiu uma ordem de prisão contra o ex-presidente Alfredo Cristiani (1989-1994), acusado de encobrir os responsáveis pelo massacre de El Mozote, considerado o maior da América Latina e perpetrado durante a guerra civil em El Salvador de 1980 a 1992.
A "prisão provisória" contra Cristiani, cujo paradeiro é desconhecido, é solicitada pelo crime de "encobrimento pessoal" por ter decretado anistia após o massacre, de acordo com uma decisão do tribunal que cuida do caso. A informação foi confirmada pelo advogado Alejandro Díaz, que acompanha familiares de vítimas.
A ordem, que também abrange quatro ex-deputados, foi emitida por um tribunal na cidade de San Francisco Gotera, no nordeste do país, que está processando vários militares pelo massacre.
— Nos interessa que todos os responsáveis sejam responsabilizados, e há anos temos falado sobre as pessoas que têm obstruído, só achamos que são mais as que estão envolvidas (...) e realmente deve ser investigado — acrescentou Díaz.
Segundo a resolução, Cristiani e os outros acusados acobertaram os supostos responsáveis pelo massacre ao impulsionar a legislação publicada em 1993 e posteriormente revogada em 2016. Essa lei "garantia total e absoluta impunidade aos autores materiais e intelectuais" do massacre de El Mozote e áreas adjacentes, indicou o texto.
A matança de El Mozote é o maior assassinato em massa conhecido pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), que condenou o Estado salvadorenho em 28 de outubro de 2012. O governo de El Salvador estabeleceu em 2017 que pelo menos 988 pessoas, incluindo 558 crianças, foram assassinadas em El Mozote e nas comunidades adjacentes sob suspeita de colaborar com a então guerrilha Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN).
O conflito no país resultou em mais de 75 mil mortos, pelo menos 7 mil desaparecidos e milhares de deslocados.
Embora considere necessário que os "acobertadores" sejam detidos, Díaz expressou preocupação de que a ordem contra Cristiani tenha motivação política com vistas às eleições presidenciais do próximo ano, nas quais o presidente Nayib Bukele concorrerá.
— Preocupa-nos que isso faça parte de uma manipulação política com uma visão mais eleitoral, em vez de contribuir para a resolução do caso que já tem 42 anos — afirmou.