Com imagens como a de uma leoa de pé sobre um caçador aparentemente morto, Roger Ballen apresenta sua visão sobre os danos causados pelo ser humano na natureza, em uma exposição que estreia na próxima semana em Joanesburgo, África do Sul.
O nova-iorquino, radicado no país há 32 anos, é conhecido por suas obras que exploram um universo que beira o bizarro e o grotesco.
Segundo ele, a mostra atual tem o objetivo de investigar a relação "antagônica" entre o homem e a natureza, focando, principalmente, nos danos causados à fauna africana.
O fotógrafo e artista, apresenta montagens de manequins com rostos torturados intercalados com animais dissecados.
"Se olharmos para a história da humanidade, isso não foi nada mais do que a destruição da natureza, a destruição da vida selvagem", disse à AFP.
De acordo com o Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês), o número de animais que vivem na natureza selvagem no continente africano caiu 66% desde 1970.
Além disso, rinocerontes, pangolins e inúmeras outras espécies estão ameaçadas de extinção.
A mostra começa com a "Era de Ouro" da caça na África, a partir do século XIX, que teria sido o início do problema, segundo Ballen.
Posteriormente, uma foto retrata o gigantesco safári organizado em 1909 pelo então presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, no qual mais de 11 mil animais foram mortos para serem catalogados.
A exposição será intencionalmente realizada na recém-inaugurada galeria do artista, "Inside Out Center for the Arts", em um influente subúrbio de Joanesburgo. O espaço foi criado com o objetivo de instigar a reflexão em turistas que atravessam a cidade rumo aos safáris no país.
- "O mundo não é só flores, uísque e amor" -
Cabeças de animais, ossos humanos e marionetes que projetam imagens inquietantes são vistas durante a exibição, que busca "questionar psicologicamente" e "deixar uma marca profunda" no espectador.
"São pedaços do mundo que nos rodeia e a minha visão sobre ele", explica o artista. "O mundo não é só flores, uísque e amor (...), a vida é feita de coisas positivas e negativas", completa.
Na exposição intitulada "End Of The Game" ("Fim do Jogo", em português), o idealizador defende a escolha de se aventurar em um território sombrio e perturbador, fazendo uma análise sobre o impacto do homem na natureza de um ponto de vista "estético" e "documental".
"Isso não é como ver uma nuvem ou algo no Instagram que você vai esquecer imediatamente", alerta ele. "Se você pode criar um impacto psicológico, então você tem a chance de deixar uma marca", acrescenta.
Este é um tema recorrente em sua carreira como fotógrafo, na qual tem um repertório que inclui retratos de sul-africanos brancos com deficiência congênita em 1994, quando o país extinguiu o apartheid e realizou suas primeiras eleições democráticas.
* AFP