Confrontos entre forças policiais e manifestantes contrários ao governo da presidente Dina Boluarte deixaram 12 mortos nesta segunda-feira (9) em Juliaca, no sul do Peru. A informação foi repassada pela Defensoria do Povo à AFP. As vítimas apresentavam impactos de projétil no corpo, detalhou um representante do hospital Calos Monge ao canal de TV N.
— O que acontece é um massacre entre peruanos. Peço calma, não se exponham — exclamou o prefeito de Juliaca, Oscar Cáceres, em um apelo à população, ao ser entrevistado pela rádio local La Decana.
Os protestos violentos foram registrados durante uma tentativa de ocupação do aeroporto de Juliaca, que está sob guarda policial e militar. Uma tentativa semelhante havia ocorrido no último sábado.
Enquanto o país está mergulhado em uma crise institucional e política marcada por manifestações e bloqueios de estradas, o governo de Dina Boluarte proibiu, até nova ordem, a entrada no Peru do ex-presidente boliviano Evo Morales, "por intervir" em assuntos da política interna do país.
— Foi decretado o registro de impedimento de entrada no país, através de todos os postos de controle migratório, de nove cidadãos de nacionalidade boliviana, entre os quais se inclui o senhor Juan Evo Morales Ayma — anunciou o Ministério do Interior, referindo-se ao ex-líder político que vem expressando apoio aos protestos contra o governo de Dina Boluarte.
Puno, região peruana na fronteira com a Bolívia, se tornou o epicentro dos protestos, com uma paralisação indefinida desde 4 de janeiro. De lá, é organizada uma marcha até a capital, Lima, que deve começar a chegar no dia 12, segundo convocações de coletivos, que reúnem sobretudo camponeses.
O anúncio contra Morales coincide com novos protestos e bloqueios de estradas em seis das 25 regiões do país, onde manifestantes exigem a renúncia da presidente Dina, a convocação de uma Assembleia Constituinte e a liberdade do presidente deposto Pedro Castillo.
"Nos últimos meses foram identificados cidadãos estrangeiros de nacionalidade boliviana que ingressaram no país para realizar atividades de caráter político proselitista, o que constitui uma clara pretensão em nossa legislação migratória, na segurança nacional e na ordem interna do Peru", acrescentou o ministério para justificar a decisão.
Morales, que foi presidente da Bolívia entre 2006 e 2019, tem uma presença ativa na política peruana desde que o ex-presidente esquerdista Pedro Castillo assumiu, em julho de 2021, até a sua destituição, no começo de dezembro. Em novembro, ele visitou Puno.
O boliviano lamentou no Twitter a decisão do governo do Peru e afirmou que ela busca "distrair e evitar" as responsabilidades pelas "graves violações" dos direitos humanos.
Autoridades peruanas alegam que Morales quer dividir o território do Peru, promovendo a secessão por meio da criação de "Runasur", uma região que supostamente incluiria parte do sul andino peruano com a Bolívia.
"O único separatismo no Peru é causado pelo racismo, a exclusão e a discriminação dos grupos de poder de Lima contra seu próprio povo. No fundo, a direita não aceita que os indígenas, os vexados por sua cor de pele, sobrenome ou lugar de origem cheguem ao poder", reagiu Evo Morales no fim de semana.
No ano passado, o Parlamento, controlado pela direita, declarou Morales "persona non grata". A proibição de sua entrada no Peru foi reivindicada no Congresso, que se tornou o principal ponto de apoio de Dina Boluarte.
Fim da trégua
Os protestos contra o governo de Boluarte foram retomados em 4 de janeiro, após uma breve trégua durante as festas de fim de ano. Os manifestantes mantinham nesta segunda bloqueios de estradas em seis departamentos do país, incluindo zonas turísticas como Puno, as margens do lago Titicaca, Cusco, Arequipa, Madre de Dios, Tacna e Apurímac.
A delegacia de polícia da cidade de Puno amanheceu com uma barricada de sacos de terra e escolta policial, como medida de precaução diante das manifestações.
"Estamos preocupados com o que está acontecendo na cidade. O problema é que querem danificar o aeroporto. Estão usando bombardas. Temos mais de 50 policiais feridos. Estamos pedindo calma", disse mais cedo o comandante da polícia David Villanueva, em Puno.
Prevendo possíveis ataques, o Ministério dos Transportes indicou que suspenderá nesta terça-feira (10) as operações do aeroporto Alfredo Mendívil, de Ayacucho, diante do início de uma paralisação de 48 horas.
Embora se considere de esquerda, Boluarte é vista como "traidora" pelas comunidades e militantes que apoiam Castillo. Setores de direita que antes promoviam sua queda, agora a respaldam. Em quase um mês, essas mobilizações somam 34 mortos.