Protestos contra o governo da presidente peruana, Dina Boluarte, deixaram dois mortos neste domingo (11) em confrontos entre policiais e manifestantes. Os atos pediam a convocação de uma greve geral, a realização de novas eleições e a libertação do presidente deposto, Pedro Castillo.
As manifestações se concentraram sobretudo em cidades do norte e do sul do país e escalaram desde que o Congresso peruano depôs Castillo, depois que ele tentou dissolver o Legislativo e governar por decreto. Dina Boluarte, uma ex-procuradora que era vice-presidente de Castillo, foi rapidamente empossada no lugar.
No sábado, ela apresentou um novo gabinete, um grupo de perfil independente e tecnocrático, que inclui oito mulheres. Boluarte nomeou o ex-procurador Pedro Angulo ao posto de primeiro-ministro.
Após ser destituído, Castillo foi preso. Neste domingo, manifestantes em cidades do interior do país, incluindo Cajamarca, Arequipa, Huancayo, Cusco e Puno, pediram a libertação do ex-mandatário. Em Andahuaylas, no sul do país, duas pessoas morreram e ao menos cinco ficaram feridas em confrontos entre manifestantes e policiais.
Conforme as autoridades peruanas, um grupo tentava invadir o aeroporto no momento da confusão. A tropa de choque da polícia foi enviada para conter manifestantes em Andahuaylas, que fica na região de Apurimac, de onde Boluarte é originária.
Os manifestantes atiraram pedras e usaram estilingues, enquanto a polícia respondeu com bombas de gás lacrimogêneo, segundo imagens exibidas pela TV local. Um posto policial na cidade de Huancabamba, na região de Apumirac, foi incendiado, reportou a rádio RPP.
"Peço às pessoas que mantenham a calma", disse a emissora o ministro do Interior, César Cervantes, ao anunciar o segundo óbito durante os protestos, momentos depois de a polícia confirmar o primeiro. Entre os mortos estaria um adolescente que se uniu aos protestos.
"A vida de nenhum peruano merece ser sacrificada por interesses políticos. Reitero minha invocação ao diálogo e a depor a violência", afirmou a presidente Dina Boluarte no Twitter.
No sábado, confrontos em Andahuaylas tinham deixado 16 civis e quatro policiais feridos. O Congresso peruano, controlado pela direita, celebrou uma sessão de emergência na tarde deste domingo para discutir a crise, mas a reunião precisou ser suspensa depois que foram registradas agressões físicas.
Em imagens publicadas nas redes sociais, um homem aparece agredindo outro por trás e, então, outros aparecem trocando empurrões no centro da Câmara.
"Greve por tempo indeterminado"
Enquanto isso, sindicatos rurais e organizações representativas dos povos indígenas convocaram uma "greve por tempo indeterminado" a partir de terça-feira em apoio a Castillo, que vem de uma família de camponeses.
Eles exigiram a suspensão do Congresso, a realização de eleições antecipadas e uma nova Constituição, assim como a libertação imediata de Castillo, segundo um comunicado da Frente Agrária e Rural do Peru, que reúne cerca uma dúzia de organizações.
A Frente Rural afirma que Castillo "não praticou um golpe de Estado" na quarta-feira, quando ele anunciou a suspensão do Congresso e disse que governaria por decreto.
Em Lima, o partido de esquerda Peru Livre organizou uma passeata na tarde de domingo na histórica Praça San Martin, na capital, epicentro de manifestações políticas do país.
Com seu passado de professor rural e líder sindical, e pouco contato com as elites peruanas, Castillo sempre contou com forte apoio nas regiões andinas, enquanto enfrentou dificuldades para encontrar suporte na litorânea Lima.
O presidente deposto foi detido na quarta-feira, enquanto estava a caminho da embaixada mexicana para pedir asilo e o Ministério Público o acusou de rebelião e conspiração.
Os pedidos de novas eleições ocorrem enquanto novas pesquisas de opinião revelam que nove em dez peruanos desaprovam o Legislativo do país.
A analista política Giovanna Penaflor disse à AFP que Boluarte, que na sexta-feira não descartou a convocação de eleições antecipadas, precisa deixar claro se ela pretende liderar um governo de transição ou permanecer no poder até 2026.
"Ela deveria ser clara que seu papel é facilitar a realização de novas eleições gerais", acrescentou Penafor, afirmando que fazê-lo traria a estabilidade necessária e "permitiria a este gabinete não ser como os do passado".
O Peru está em seu sexto presidente desde 2016. O governo Castillo, que durou 17 meses, foi ofuscado por investigações contra ele e sua família, protestos maciços pedindo sua saída e uma disputa de poder com o Congresso, apoiada pela oposição.