Cheguei na Royal Mile bem antes da hora do grande acontecimento do dia, previsto para as 17h (12h em Brasília) desta segunda-feira (12). Essa é mesma avenida por onde, no domingo (11), passou o cortejo com o corpo da rainha Elizabeth II.
Após 24 horas no palácio de Holyrood, um novo cortejo seguirá até a catedral de St. Giles, que fica a umas sete quadras. O novidade do dia é a presença de Charles III.
O novo rei volta à Escócia após ter se dirigido pela primeira vez ao parlamento britânico, em Londres. Há um burburinho de que outros membros da família real venham para cá. Não à toa que os moradores de Edimburgo montaram um plano de sobrevivência.
Vejo um menino deitado na calçada. A mãe dele o tirou da cama antes do dia amanhecer. Trouxe um tapete onde ele deitou para completar o sono. Fiquei curioso para saber se ele gosta mesmo da monarquia, mas não quis acordá-lo e, se eu perguntasse à mãe, ela diria que sim.
O fato é que aguentar tanto tempo no mesmo lugar e com mais gente chegando a toda hora beira o desumano. A lógica não é capaz de entender idolatria.
Eu também montei meu plano de ação. Já fiquei posicionado do lado para onde fica a estação de trem. Tenho passagem marcada às 19h38min. Se perder esse trem, nem amanhã de manhã! Todas as passagens de Edimburgo a Londres até quarta-feira estão vendidas. Não posso arriscar ficar preso do outro lado e não embarcar.
Também preciso ter sinal de internet pra mandar conteúdo para GZH e Rádio Gaúcha. Bem no meio do povo, nada funciona. Eu, então, entrei num café. Tem wifi, água de graça, banheiro (quem está sozinho como eu, e não tem ninguém para guardar o lugar, tem que pensar nessa situação). Posso ir e voltar várias vezes, já combinei com a atendente. Só não posso trazer comida na mochila. Vou enrolar na água uma parte do tempo até as 17h.
Voltei pra Royal Mile. E acho que a comida de casa é um motivo para ter tanta gente na rua. Não há uma mochila que não tenha comida. Encontrei um casal de idosos escoceses que são apaixonados pelo Brasil. Me perguntaram várias coisas antes que eu pudesse fazer a entrevista que me levou a conhecê-los.
Karen Hamilton me mostrou os vários sanduíches que preparou.
— Comida é o principal. Não pode faltar. Água também. E também trouxe café.
Eles estão lendo jornais, sentados em cadeiras dobráveis que trouxeram de casa. O marido dela, Clay, 73 anos, contou sobre o motivo de estarem aqui tão cedo.
— A Elizabeth foi incrível, nos trouxe muita tranquilidade e confiança nos momentos determinantes das últimas décadas. É importante estar aqui.
Também encontrei jovens. Bem mais do que no domingo. Lisa Himm, 24 anos, moradora de Glasgow, veio porque tem esperança de ver Kate ou Meghan, as mulheres dos dois príncipes. Se elas virão ou não, só descobriremos mais tarde. Ainda faltam algumas horas.