Os angolanos foram às urnas nesta quarta-feira (24) para eleições legislativas que designarão como presidente do país o líder do partido vencedor, em uma disputa concentrada entre o atual chefe de Estado, cujo partido governa a nação desde a independência em 1975, e um opositor que promete lutar contra a pobreza e a corrupção.
Os locais de votação, que tinham aberto as portas às 07h locais (03h de Brasília) começaram a fechar progressivamente antes do horário previsto, às 18h locais (14h de Brasília), segundo jornalistas da AFP.
A apuração começou imediatamente. O processo eleitoral é acompanhado por observadores estrangeiros, que chegaram ao país nas últimas semanas.
"As eleições são um sucesso e transcorreram de maneira exemplar", comemorou a Comissão Eleitoral durante coletiva de imprensa à noite.
O país tem 14 milhões de eleitores registrados, que devem escolher entre oito partidos políticos.
O candidato do partido vencedor nas legislativas tomará posse como presidente.
As eleições são consideradas as mais disputadas da história da ex-colônia portuguesa, mas, de acordo com as pesquisas mais recentes, o governante Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) deve triunfar novamente.
Neste caso, o presidente João Lourenço, de 68 anos, terá um segundo mandato.
Seu principal adversário é Adalberto Costa Júnior, de 60 anos, do ex-movimento rebelde de direita União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
A UNITA fez campanha com a promessa de reformas para lutar contra os flagelos da pobreza e da corrupção. "ACJ", como o líder do partido é chamado, conseguiu encarnar para muitos angolanos as esperanças de "mudança" em um país com grandes dificuldades econômicas.
Antes de entrar no local de votação, Lindo, um eletricista de 27 anos, disse à AFP que votaria na UNITA.
"Há 20 anos que o país está em paz e continuamos na pobreza. Em Angola não há uma verdadeira democracia, o MPLA controla tudo", disse Lindo.
ACJ também conquistou a simpatia de boa parte dos jovens nas grandes cidades, uma faixa etária que não tem a lealdade dos mais velhos ao MPLA.
Este movimento, identificado durante décadas com a luta pela independência, teve a imagem corroída pela corrupção que marcou a longa presidência de José Eduardo dos Santos (1979-2017).
O ex-presidente, que faleceu em julho na Espanha e que teve o corpo repatriado no sábado passado para Angola, foi acusado de desviar bilhões de dólares para beneficiar parentes e amigos.
A faixa etária de 10 a 24 anos representa um terço da população do país de quase 34 milhões de habitantes.
"Não há democracia com um partido único no poder", declarou Costa Júnior em um comício em Luanda na segunda-feira.
- Temor de fraudes -
"A diferença será a menor da história", prevê Eric Humphery-Smith, analista da consultoria britânica Verisk Maplecroft.
Mas com um partido no poder que controla o processo eleitoral e os meios de comunicação públicos, a oposição e parte da opinião pública temem a possibilidade de fraude.
Em 2017, João Lourenço foi eleito com 61% dos votos, com a marca de sucessor designado de Santos.
Após a vitória nas urnas, ele rapidamente se afastou do ex-presidente e iniciou, para surpresa de todos, uma ampla operação anticorrupção. Também afastou pessoas ligadas a Santos de cargos importantes no governo.
O atual presidente espera vencer graças ao balanço dos cinco anos de governo, período em que, depois de herdar uma economia dependente do petróleo e em grave recessão, iniciou reformas ambiciosas para diversificar as fontes de receita e privatizar empresas públicas.
"Criamos e reestruturamos nossa economia", disse o presidente e candidato em um comício no fim de semana passado.
A repatriação do corpo do ex-presidente José Eduardo dos Santos, que será sepultado no domingo, pode favorecer Lourenço.
Os resultados só devem ser anunciados vários dias após as eleições, mas em caso de impugnação a demora pode ser ainda maior.
No entanto, a lei, segundo a Comissão Eleitoral, prevê "a possibilidade de dar resultados provisórios".
* AFP