O ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos faleceu, nesta sexta-feira (8), aos 79 anos, em um hospital de Barcelona (Espanha), onde estava internado desde 23 de junho após uma parada cardíaca - anunciou o governo de Angola.
"O governo angolano informa, com grande pesar e consternação, o falecimento de Santos", afirma um comunicado divulgado no Facebook.
O Executivo angolano "se curva, com o maior respeito e consideração", diante desta figura "histórica" que "presidiu com clareza e humanismo o destino da nação angolana durante anos muito difíceis", acrescenta o comunicado.
Seu sucessor à frente deste Estado africano lusófono rico em petróleo, o atual presidente João Lourenço, decretou cinco dias de luto em sua memória, a partir de sábado (9).
No início do mês, a família de Dos Santos havia informado que o ex-chefe de Estado sofreu uma "parada cardíaca" em 23 de junho e estava hospitalizado na UTI desde então.
No início da semana, uma de suas filhas, Tchizé dos Santos, apresentou uma denúncia à polícia por uma suposta tentativa de assassinato do pai.
"A filha do ex-presidente de Angola José Eduardo dos Santos, que está hospitalizado na clínica Teknon de Barcelona em coma induzido, apresentou (...) uma denúncia para que se investigue a suposta prática do crime de tentativa de homicídio", informaram os dois escritórios de advocacia de Barcelona que assessoram a filha do ex-presidente.
Tchizé dos Santos citou como responsáveis pelo agravamento do estado de saúde do pai Ana Paula, mulher do ex-presidente, e seu médico particular, segundo fontes próximas. Nesta sexta-feira, pediu que o corpo de seu pai seja submetido a uma necropsia.
"O corpo do ex-presidente deve ser conservado e não deve ser entregue antes de passar por uma necropsia, por medo de que seja transferido para Angola", afirmou nesta sexta em nota enviada à AFP.
Nascido em um bairro de periferia, Dos Santos, um dos líderes africanos que se mantiveram no poder por mais tempo, foi acusado de se aproveitar dos recursos do país em benefício próprio.
Este ex-revolucionário marxista deixou a Presidência do país, um dos mais pobres da África, em 2017.
- Controle total -
Ao chegar ao poder em 1979, a Angola estava há quatro anos imersa em uma sangrenta guerra civil após a independência de Portugal. O balanço é de pelo menos meio milhão de mortos em 27 anos de conflito.
Após o cessar-fogo de 2002, José Eduardo dos Santos transformou Angola no primeiro produtor de petróleo do continente, em concorrência direta com a Nigéria.
Dos Santos, que mal aparecia em público, manteve um controle rígido sobre seu partido, o Movimento de Libertação de Angola (MPLA), e por quase quatro décadas impôs seu poder ao Governo, ao Exército, à Polícia e ao Judiciário.
Sob sua gestão, a censura foi praticada na mídia, e as poucas manifestações contra ele foram duramente reprimidas.
Dos Santos nasceu em 28 de agosto de 1942 no Sambizanga, bairro pobre de Luanda, foco do movimento de independência de Angola.
Filho de pedreiro, bolsista, estudou engenharia no Azerbaijão e se casou com uma soviética, Tatiana Kukanova, mãe de sua filha mais velha, Isabel (uma das mulheres mais ricas da África, segundo a Forbes).
Na década de 1970, Dos Santos ingressou no Comitê Central do MPLA e se tornou o principal diplomata do país, após a independência em 1975. Quatro anos depois, foi nomeado chefe de Estado pelo partido.
Apesar das mudanças na Constituição e das eleições, ele nunca deixou o poder.
Depois de governar a ex-colônia portuguesa durante 38 anos, José Eduardo dos Santos designou o ex-ministro da Defesa João Manuel Gonçalves Lourenço como seu sucessor, em 2017. Aquele que foi seu fiel aliado iniciou, porém, uma campanha para recuperar os milhões de dólares que Santos supostamente teria desviado para enriquecer sua família.
* AFP