Somente aqueles que melhor se adaptam ao seu ambiente conseguem se reproduzir: essa simples teoria darwiniana, utilizada também nas mídias sociais, explica a última reviravolta na desinformação na Colômbia durante o segundo turno presidencial de 2022, que opõe o empresário Rodolfo Hernández e o ex-guerrilheiro Gustavo Petro.
"A desinformação tornou-se sofisticada. (...) E isso torna muito mais difícil verificar se [o conteúdo] tem problemas", disse à AFP Ana María Saavedra, diretora do meio de verificação Colombiacheck, citando tuítes falsos "quase perfeitos" atribuídos aos candidatos e figuras políticas relevantes nos dias anteriores à votação de domingo.
Juan Esteban Lewin, diretor editorial do portal La Silla Vacía e chefe de seu detector de mentiras, concordou. Em conversa com a AFP, ele explicou que isso responde a "uma evolução natural da desinformação: primeiro as notícias falsas são muito grosseiras e facilmente desmentidas", mas depois se tornam mais complexas porque seus criadores aprendem a evitar a verificação de fatos.
Um exemplo disso foi a captura de tela de um tuíte, que rapidamente viralizou, no qual Petro supostamente acusava seu rival de usar o desaparecimento de sua filha como estratégia de campanha política.
- Edições milimétricas e o limbo -
"Outra das notícias falsas sofisticadas é a de Petro e seu pacto com Satanás, vemos como eles cortaram e editaram muito bem esses vídeos", acrescentou Saavedra sobre uma sequência que foi editada para tirar de contexto um discurso do candidato no qual criticou religiosos.
"Ou também [na gravação em que Petro diz] 'Eu não sou um Chávez' e o editaram [para parecer que ele diz] 'Eu sou um Chávez'. Estamos vendo muitas dessas edições milimétricas nessas eleições", especificou.
Aos olhos dos editores da Colombiacheck e La Silla Vacía, signatários da Rede Internacional de Verificação de Dados (IFCN) junto com a AFP, a desinformação eleitoral encontrou outro mecanismo de camuflagem no humor e no limbo derivado de entender ou não sua piada.
- Mudança de eixo e perigos -
O segundo turno das eleições de domingo, nas quais 39 milhões de colombianos podem votar, também gerou uma mudança nos interesses de desinformação, após a surpreendente passagem de Hernández.
Conforme verificado pela equipe de investigação digital da AFP, o eixo da desinformação saltou de Petro no primeiro turno para Hernández nesta votação.
A AFP Fact-Checking verificou declarações falsas sobre supostas deficiências, promessas de campanha e declarações do candidato. Além disso, vários perigos afligem os verificadores na campanha.
Um deles foi destacado em 10 de junho pela ONG colombiana Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP), que denunciou que usuários clonaram os modelos gráficos da Colombiacheck no Twitter para desinformar e se passar por seus jornalistas.
Embora uma das contas tenha sido suspensa e alguns tuítes tenham sido removidos, "esses ataques atrapalham o trabalho" e "geram desconfiança no público", alertou a agência.
* AFP