Durante a madrugada, o barulho temido há vários dias acordou a capital ucraniana em pânico. Às 4h30min desta quinta-feira (24), explosões rasgaram o céu de Kiev pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.
Ao amanhecer, as primeiras sirenes de alerta tocaram por vários minutos nos alto-falantes da capital.
— Acordei com o barulho das bombas, fiz as malas e saí correndo — disse Maria Kashkoska, 29 anos, abaixada em uma estação do metrô, onde encontrou refúgio.
Abalada, a empresária afirmou que está "preparada para qualquer eventualidade". Nas varandas, olhares preocupados e de dúvida: foi um ataque aéreo, foram explosões? Que alvos foram atingidos?
Uma hora depois do despertar em pânico, ninguém tinha informações sobre a origem ou os alvos das explosões na capital e em seus arredores. Sem esperar, os moradores de Kiev iniciaram a fuga.
As avenidas começaram a registrar trânsito intenso ainda de madrugada. Carros com famílias inteiras tentavam deixar a cidade e seguir para a região oeste, ou para áreas rurais, longe da fronteira com a Rússia.
A frente leste é a região com bombardeios mais intensos, mas nenhuma região da Ucrânia parece estar a salvo.
No outro extremo do país, na cidade costeira de Odessa e inclusive em Leópolis (Lviv), a cidade do oeste para onde Estados Unidos e outros países transferiram suas embaixadas, as sirenes, que anunciam a necessidade procurar abrigo de maneira urgente, também tocaram a cada 15 minutos.
"Mantenham a calma!", escreveu no Twitter o ministro da Defesa, Oleksiy Reznikov. "Se possível, fiquem em casa. A situação está sob controle (...) Sua tranquilidade e sua confiança nas Forças Armadas ucranianas é a melhor ajuda neste momento", completou em uma mensagem à população.
"Salvar nossas vidas"
Muitos ucranianos não acreditaram até o último momento na guerra, que tomou a forma de ataques coordenados executados na quarta-feira à noite por Vladimir Putin contra o país vizinho.
Em Kiev, os preparativos haviam sido discretos até então. Mas na noite de quarta-feira, após a proclamação do estado de exceção, o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, anunciou a instalação de postos de controle nas principais entradas da capital e o reforço dos controles de passageiros nas estações de trem e no aeroporto.
Do lado de fora da estação de metrô da Praça Maidan, no centro de Kiev, uma mulher tentava silenciar os gritos de seu gato, que ela acabou colocando em uma mochila.
— Temos que salvar nossas vidas, e esperamos que o metrô seja suficientemente seguro, pois é subterrâneo — disse Ksenia Mitchenka à AFP, antes de entrar correndo no veículo.
Muitas famílias chegaram à entrada da estação com malas e sacolas, com os olhos grudados nos telefones celulares. Os agentes abriram as catracas e indicavam o caminho. No final das intermináveis escadas rolantes, vários grupos de pessoas estavam sentados no chão.
— Vamos ficar aqui, é mais seguro, vamos esperar aqui — explicou uma jovem, que não quis revelar o nome e que levava na mala seus documentos, carregadores e muito dinheiro, "o essencial", segundo ela, para fugir em tempos de guerra.