Admirador da ditadura de Augusto Pinochet e em sintonia com líderes como Jair Bolsonaro, Donald Trump e o partido Vox espanhol, o representante da extrema-direita chilena José Antonio Kast se apresenta como o candidato da ordem para o Chile.
"Dizem que sou extremo, mas extremo em quê?", questionou durante a campanha o candidato, que disputará o segundo gurno contra o esquerdista Gabriel Boric em 19 de dezembro.
"Não me trate como extrema-direita, porque não sou (...) Espero que eles me qualifiquem como um candidato de bom senso", acrescentou Kast, 55 anos.
Este advogado atuou por 20 anos no partido ultraconservador União Democrática Independente (UDI) até que em 2019 criou o Partido Republicano, pelo qual disputa a presidência pela segunda vez. Em 2017 ele ficou em quarto lugar, com 7,93% dos votos
No encerramento da campanha, na quinta-feira, Kast prometeu recuperar a "liberdade" para o país com a "ordem e segurança".
"Estamos dispostos a dar a vida se for necessário, dar a vida por nosso Chile querido. Deus e a pátria é o que nos inspira", disse o ultraconservador. "Nós entendemos a maioria dos chilenos que desejam um país tranquilo e seguro", disse, depois de ser o candidato mais votado no primeiro turno.
- Nostálgico de Pinochet -
Kast, casado e com nove filhos, é um membro ativo do movimento católico conservador Schoenstatt. Filho de imigrantes alemães que chegaram ao Chile em 1951, seu pai alistou-se no exército durante o regime nazista alemão, embora o candidato tenha dito que foi por "obrigação".
Sua família se instalou no povoado de Paine, nos arredores de Santiago, onde fez fortuna com uma fábrica de linguiças alemãs e uma rede de restaurantes da qual se dissociou há alguns anos.
Grupos de direitos humanos denunciam que membros de sua família colaboraram para a detenção de opositores em Paine durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
O primeiro cargo público de Kast foi como vereador pela comuna de Buin, entre 1996 e 2000. Ele então chegou ao Parlamento e foi deputado por quatro mandatos consecutivos.
Nesta nova incursão presidencial, mantém o sorriso e a parcimônia que o caracterizam, embora com a aproximação das eleições tenha ficado mais tenso ao ser obrigado a destacar sua conhecida admiração pela era Pinochet, que deixou mais de 3.200 mortos e desaparecidos.
""Há uma situação que faz a diferença em relação ao que acontece em Cuba, Venezuela e Nicarágua. Acho que a Nicarágua reflete plenamente o que não aconteceu no Chile (com Pinochet): foram realizadas eleições democráticas e não prenderam adversários políticos. Esta é a principal diferença", alegou Kast.
Para ele, a Constituição promulgada em 1980 durante o regime de Pinochet "continha toda a transição para a democracia" e o governo militar passou o poder após um plebiscito. "Diga-me, que ditadura fez isso?"
- Minorias em apuros -
Em seu programa de governo, ele propõe a redução dos gastos públicos, a redução de impostos e a eliminação de vários ministérios, inclusive o da Mulher.
Ele é o único dos sete candidatos que se propõe a manter o sistema de previdência privada instituído durante a ditadura, muito criticado pela opinião pública.
Propõe a intervenção das Forças Armadas na região de La Araucanía, no sul do Chile, prejudicada pelo conflito com os indígenas mapuches e o aumento das penas de prisão para crimes comuns.
Em uma das partes mais polêmicas, propõe, dentro de um estado de exceção, a detenção de opositores em casas ou outros locais que não as prisões e o fechamento do Instituto Nacional de Direitos Humanos, além da construção de uma vala para impedir a entrada de imigrantes sem documentos.
Também quer a revogação dos benefícios compensatórios às vítimas de violações dos direitos humanos durante a ditadura e a criação de uma "coordenação internacional antirradicais de esquerda".
* AFP