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Com mais de 98% das urnas apuradas, a coalizão Juntos por el Cambio (Juntos pela Mudança, em tradução livre), que reúne opositores ao governo do presidente da Argentina, Alberto Fernández, tinha 41,5% dos votos para deputados e 45,37% para senadores nas primárias legislativas do país, segundo contagem de votos do jornal Clarín. As primárias antecedem as eleições gerais marcadas para novembro deste ano.
O partido Frente de Todos, de Fernández, aparecia em segundo lugar em ambas as disputas, com 31,80% dos votos para deputados e 29,01% para senadores.
Ao todo, os pré-candidatos da Juntos por el Cambio lideravam as preliminares para a eleição de deputados em 14 das 23 províncias argentinas, enquanto os da Frente de Todos apareciam na liderança em sete regiões. Nas províncias de Neuquén e Rio Negro, movimentos políticos locais lideravam a disputa.
Na prévia para o Senado, o Clarín informava vitória parcial da oposição em seis províncias, enquanto a Frente de Todos liderava em duas subdivisões do território argentino.
Reação
— Alguma coisa não teremos feito bem — disse Fernández, depois do resultado negativo obtido nas eleições primárias para as legislativas de novembro.
Com quase metade do país na pobreza e uma inflação galopante, sua margem para se recuperar parece pequena.
A coalizão governista Frente de Todos (peronismo de centro-esquerda) obteve menos de 31% dos votos em nível nacional; um resultado inesperado que faz temer por sua maioria no Senado e afasta a possibilidade de consegui-la na Câmara dos Deputados quando, em 14 de novembro, forem celebradas as eleições para a renovação parcial do Congresso.
— É um cenário catastrófico para o governo. Com esses números,a perspectiva é que a vitória da oposição poderia se consolidar em dois meses — disse à AFP o cientista político Carlos Fara.
As eleições de domingo (12) foram primárias para definir os candidatos às legislativas, mas são consideradas uma espécie de pesquisa em escala real que antecipa o resultado final.
Nas eleições, a coalizão de centro-direita Juntos, do ex-presidente Mauricio Macri, obteve 40% dos votos no país, mas sobretudo conseguiu vencer com vantagem de cinco pontos na província de Buenos Aires, tradicional reduto do peronismo e maior distrito eleitoral do país.
— É difícil pensar que a situação possa fazer algo para reverter essas tendências. Há uma inércia forte do olhar da sociedade sobre o governo — disse à AFP o cientista político Diego Reynoso, que chefia uma pesquisa sobre satisfação política na privada Universidade de San Andrés.
Pobreza e inflação
Fernández assumiu em dezembro de 2019, em uma chapa que impulsionou a ex-presidente Cristina Kirchner, agora vice, e ainda lhe restam dois anos de mandato com um programa econômico muito difícil.
— Confio em que o caminho que iniciamos em 2019 não se altere — disse Fernández nesta segunda (13), em um ato público.
No entanto, seu governo tem várias definições pendentes.
A Argentina deve negociar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) um acordo de facilidades estendidas que substitua o stand-by assinado em 2018 durante o governo Macri e pelo qual deve US$ 44 bilhões.
Mas essa negociação foi adiada para evitar que eventuais medidas de ajuste acordadas com o Fundo impactassem as eleições de meio de mandato.
A Argentina está em recessão desde 2018 e no ano passado, em meio a uma longa e estrita quarentena pela pandemia de covid-19, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 9,9%, uma das mais importantes da região.
O país sofre uma das inflações mais elevadas do mundo (29% de janeiro a julho de 2021), com uma pobreza de 42%. Desde que a pandemia começou, o peso argentino se depreciou cerca de 40%, apesar de um controle estrito de câmbios e capitais.
Com os resultados negativos nas primárias, a situação se debate entre a radicalização e a moderação.
— A via da radicalização, sobretudo em temas econômicos, tem poucas chances. A aceleração inflacionária seria quase imediata se forem dados sinais de que se seguirá por este caminho — alertou o analista Marcos Novaro.
— Parece-me que o governo está em uma situação difícil. Há motivos, inclusive, para pensar que pode se sair pior, porque em novembro mais gente vai votar e essa gente está mais alinhada com o cansaço e a decepção do que com o entusiasmo em relação ao governo — disse Novaro à AFP.
Terceiro em discórdia
As primárias também revelaram um novo nome ascendente, o do economista Javier Milei, que com um discurso provocador de direita que apela a ideais libertários foi o terceiro mais votado na cidade de Buenos Aires (13%).
— Liberdade, caralho! Liberdade, caralho! — gritou Milei na noite de domingo, dirigindo-se aos seguidores, aos quais chama de "leões que devem acordar", em um estilo similar ao do presidente brasileiro Jair Bolsonaro ou do ex-presidente americano Donald Trump.
Com 50 anos, vários livros publicados, um programa de rádio e inclusive uma incursão no teatro, Milei captou o voto jovem e masculino, que rejeita a classe política.
— Responde à forte insatisfação de certos setores urbanos. Será preciso ver se consegue irradiar para o resto do país. Já houve emergentes parecidos no passado, mas não com a sua virulência — comentou Reynoso.
De qualquer forma, as legislativas são o cenário ideal para promover quem vai disputar a Presidência em 2023, quando Fernández tentará se reeleger.