Cinco ministros apresentaram na quarta-feira (14) sua renúncia ao presidente da Argentina, Alberto Fernández, que irá decidir se as aceita, após a derrota eleitoral inesperada sofrida pelo governismo há três dias, nas primárias das eleições legislativas, que resultou em uma crise na aliança de centro-esquerda.
Após as 21h30min locais de um dia tomado por reuniões com funcionários de confiança, o presidente argentino deixou a sede do governo sem fazer declarações. Ele embarcou em um helicóptero rumo à residência oficial de Olivos, localizada nos arredores de Buenos Aires.
O ministro do Interior, Wado de Pedro, foi o primeiro a oferecer renúncia. Em seguida, foi seguido pelos titulares das pastas da Justiça, Martín Soria; da Ciência, Roberto Salvarezza; do Meio Ambiente, Juan Cabandié; e Cultura, Tristán Bauer, considerado próximo da vice-presidente Cristina Kirchner.
"Ouvindo suas palavras na noite de domingo, onde levantou a necessidade de interpretar o veredito expresso pelo povo argentino, considerei que a melhor forma de colaborar com esta tarefa é colocando minha demissão à sua disposição", escreveu De Pedro no carta que apresentou Fernández.
No domingo, nas primárias para eleger candidatos para as legislaturas de meio de mandato, a coalizão governista Frente de Todos (peronismo de centro-esquerda) obteve menos de 31% dos votos em todo o país, revelando uma rejeição do eleitorado muito maior do que imaginavam os líderes políticos e as pesquisas.
A coalizão de centro-direita Juntos, do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019), obteve 40% dos votos em nível nacional e levou cinco pontos de vantagem sobre o partido no poder na província da capital Buenos Aires, tradicional reduto peronista.
Como o voto na Argentina é obrigatório, as primárias se tornam uma espécie de pesquisa em grande escala. Nesse caso, o resultado faz com que o governo tema perder a maioria no Senado e impossibilita sua consolidação na Câmara dos Deputados quando, em 14 de novembro, terão eleições para uma renovação parcial do Congresso.
Crise política e econômica
Fernández, sem força política própria, assumiu o cargo em dezembro de 2019 com uma chapa promovida pela ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), agora vice-presidente. Durante sua gestão, ele teve que enfrentar a pandemia de covid-19 e o aprofundamento da crise econômica que deixou quase metade da população na pobreza.
Com a popularidade em declínio, Kirchner tem criticado no último ano a gestão de Fernández, revelando divergências internas e até referindo-se a "funcionários que não trabalham".
A Argentina acumula até agosto um aumento da inflação de mais de 30%, entre as mais altas do mundo, e um índice de pobreza de 42%, em meio a uma recessão que dura desde 2018.