O Haiti, cujo polêmico presidente Jovenel Moise foi assassinado nesta quarta-feira (7), está mergulhado em uma instabilidade política crônica desde o fim da ditadura de Jean-Claude Duvalier em 1986.
A seguir, os principais eventos que marcaram o país desde então:
- Queda de Duvalier -
Em 1986, o ditador Jean-Claude Duvalier é derrubado por um levante popular, e o Exército assume o poder.
"Baby Doc" havia se tornado presidente vitalício aos 19 anos, em abril de 1971, após a morte de seu pai, François Duvalier, conhecido como "Papa Doc". Este último havia chegado ao poder em 1957, em eleições fraudadas, estabelecendo rapidamente um regime ditatorial com os "tontons macoutes", sua milícia pessoal.
Após 25 anos de exílio na França, Jean-Claude Duvalier retornou ao Haiti em 2011, um ano após um terremoto devastador. Ele morreu em 2014 de um ataque cardíaco, sem ter sido julgado, apesar de a Justiça haitiana ter aberto uma investigação contra ele alguns meses antes por crimes contra a humanidade.
- Mandatos inacabados de Aristide -
Em 30 de setembro de 1991, o padre salesiano Jean-Bertrand Aristide, eleito presidente em 1990, foi derrubado por um golpe militar e exilado.
Quatro anos depois, foi reconduzido ao poder por uma intervenção militar americana, terminando seu mandato em 1996, após a dissolução das Forças Armadas do Haiti (FADH), cuja história foi marcada por golpes de Estado. René Préval lhe sucedeu no cargo.
Novamente chefe de Estado em 2001, Aristide foi forçado a deixar o poder em 2004, desta vez sob pressão de Estados Unidos, França e Canadá, por uma insurreição armada e uma revolta popular. Partiu para o exílio na África do Sul.
Por dois anos, o país permaneceu sob o controle da Organização das Nações Unidas (ONU), que mobilizou 9,5 mil capacetes azuis e policiais internacionais.
Em 2006, René Préval foi novamente eleito presidente. Até hoje, ele continua sendo o único líder haitiano a ter cumprido os dois mandatos autorizados pela Constituição.
- Um ano e meio de crise eleitoral -
Michel Martelly, eleito presidente em 2011, restaurou as Forças Armadas do Haiti em 2015.
Em 7 de fevereiro de 2016, seu mandato terminou sem sucessor, após o cancelamento do primeiro turno das eleições presidenciais em outubro de 2015 por disputas e fraudes em massa.
O Parlamento nomeou o então o presidente do Senado, Jocelerme Privert, como presidente interino.
Após uma longa crise eleitoral, em janeiro de 2017, a eleição do empresário Jovenel Moise foi confirmada em nova votação em novembro de 2016.
- Moise, presidente questionado, é assassinado -
Desde que assumiu o cargo, em fevereiro de 2017, Moise enfrenta a rejeição da oposição, que não reconhece sua vitória.
Em 2018, o aumento dos preços dos combustíveis desencadeou três dias de distúrbios.
Em maio de 2019, o Tribunal de Contas acusou o presidente de "peculato" antes de assumir o cargo.
O movimento de protesto se intensificou no final de agosto, devido à escassez de combustível.
Entre agosto e dezembro, cerca de 70% das escolas permaneceram fechadas, devido a manifestações que resultam em dezenas de mortes, barricadas e no aumento das ações de gangues armadas, segundo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Após o término, em janeiro de 2020, do mandato dos deputados sem novas eleições, o presidente continuou governando por decreto.
As manifestações contra a insegurança aumentaram, bem como os sequestros para exigir resgate.
Em 7 de fevereiro de 2021, o Conselho Superior do Judiciário decretou o fim imediato do mandato presidencial. Mas Moise afirmou que lhe restava mais um ano no poder, em virtude do cancelamento das eleições de 2015.
No mesmo dia, as autoridades anunciaram o fracasso de um golpe dirigido contra o presidente, que afirmou ter escapado de uma tentativa de assassinato.
Em março, o Executivo declarou estado de emergência para restaurar a autoridade em áreas controladas por gangues.
O país deve realizar um referendo constitucional em setembro, após vários adiamentos, devido à pandemia do coronavírus.
Em 7 de julho, Moise foi assassinado em sua casa por um comando armado formado por estrangeiros, segundo o primeiro-ministro em fim de mandato Claude Joseph, cujo sucessor foi nomeado dois dias antes.
* AFP