Pelo menos 59 pessoas infectadas com covid-19 participaram de escaladas ao Monte Everest este ano, de acordo com reportagem do New York Times publicada neste domingo (27). Alguns dos alpinistas chegaram a atingir o cume da montanha, que é a mais alta do mundo (8.848 metros de altitude) e está localizada na Cordilheira do Himalaia, entre o Tibete e o Nepal.
Apesar dos vários testemunhos de infectados, o governo nepalês nunca reconheceu a existência de surtos no local. O departamento de turismo manteve esse posicionamento, mesmo quando foram realizadas evacuações aéreas de doentes e expedições foram canceladas — algo que dificilmente acontece pois a logística organização envolve muita organização prévia, o que inclui preparação física e recursos financeiros.
De acordo com o governo do Nepal, nunca houve nenhum caso de covid-19 no Everest. As autoridades de turismo rejeitaram os relatos de alpinistas, justificando, por exemplo, um do casos como pneumonia. Tossir, acrescentaram, não é novidade no ar seco da montanha.
Depois de terminada a temporada das escaladas, as agências organizadoras começaram a perceber o número crescente de infeções, sobretudo no acampamento base, onde se hospedam um maior número de alpinistas para se adaptarem aos efeitos da altitude no organismo antes de iniciarem a escalada.
Conforme o New York Times, as autoridades nepalesas têm fortes motivos para minimizar os casos de covid-19 no Everest. O local esteve fechado às expedições em 2020, depois de arrecadar mais de US $ 2 bilhões com escaladas e caminhadas em 2019. Se os casos de infecção fossem divulgados, isso poderia manchar a imagem do Nepal como destino turístico e induzir alpinistas cujas expedições foram canceladas para exigir extensões de suas licenças de escalada.
O governo chegou a adotar protocolos sanitários, como testes, uso obrigatório de máscara e distanciamento social, além de posicionar médicos no acampamento base do Everest e utilizar helicópteros prontos para transportar alpinistas infectados.
Com a temporada de escalada deste ano agora acabada, mais agências de expedição estão reconhecendo que as infecções por covid-19 foram galopantes no acampamento base, que atraiu um recorde de 408 alpinistas estrangeiros neste ano. Segundo o NYT, o número de casos pode ser muito superior a 59, já que os organizadores da expedição, médicos e os próprios alpinistas disseram que foram pressionados a esconder infecções.
Dos mais de 400 alpinistas que tentaram escalar o Everest, quase metade abandonou suas expedições, seja porque contraíram covid-19 ou por causa de um ciclone que causou tempestades de neve no Himalaia.