O ex-presidente marfinense Laurent Gbagbo voltou nesta quinta-feira (17) à Costa do Marfim após dez anos de ausência, depois que a justiça internacional o absolveu de crimes contra a humanidade, e se declarou "contente" ao ser recebido por milhares de simpatizantes.
Gbagbo, de 76 anos, morava em Bruxelas desde que o Tribunal Penal Internacional (TPI) o absolveu em janeiro de 2019, uma decisão confirmada em apelação em 31 de março.
"Estou contente de voltar à Costa do Marfil e à África após ter sido absolvido", declarou Gbagbo menos de quatro horas depois de se apresentar aos membros da direção do seu partido, a Frente Popular Marfinense (FPI).
"Meus olhos ficam cheios de lágrimas ao pensar na minha mãe, morta" enquanto esteve detido em Haia, acrescentou. Gbagbo anunciou que discursaria "mais tarde".
O avião que o trouxe de volta para seu país, procedente de Bruxelas, pousou às 16h30 locais (13h30 de Brasília). Pouco depois de chegar, o ex-presidente foi até a antiga sede de campanha das eleições presidenciais de 2010, no norte de Abidjan, onde deu declarações a dirigentes do FPI, enquanto do lado de fora, milhares de simpatizantes se reuniram para aclamá-lo.
Ao longo do percurso, milhares de jovens pró-Gbagbo, entusiasmados, corriam e gritavam: "Gbagbo está aqui!", "Gbagbo volta!", "Está aqui para libertar a Costa do Marfim!" e "Estamos aqui por Gbagbo e estamos orgulhosos!".
Seu retorno esteve rodeado de tensão. Centenas de pessoas o aclamaram no aeroporto, entre elas autoridades da FPI, e inclusive pessoal das companhias aéreas, constataram jornalistas da AFP.
O atual presidente, Alassane Outtara, autorizou o retorno de Gbagbo em nome da "reconciliação nacional".
Pouco antes do pouso do avião, jornalistas da AFP puderam ouvir tiros e ver fumaça de bombas de gás lacrimogêneo nas proximidades do aeroporto.
As forças de segurança estiveram dispersando as pessoas durante toda a manhã, antes da sua chegada.
Estas operações policiais não representam nenhum "abuso", declarou à AFP o ministro da Comunicação, Amadou Coulibaly, que assegurou que tinham se inteirado "pela imprensa" do itinerário previsto pela comitiva do ex-presidente.
- "Impunidade" -
Gbagbo foi detido em 11 de abril de 2011 em Abidjan após ter questionado a vitória do seu adversário, Ouattara, nas eleições presidenciais de 2010. Sua recusa em admitir a derrota provocou então uma grave crise que deixou cerca de três mil mortos.
Por estes atos de violência, Gbagbo foi detido primeiro no norte da Costa do Marfim, depois foi transferido ao final de 2011 ao TPI de Haia, que o absolveu após um longo processo.
Associações de vítimas desta crise denunciam "a impunidade" contra o ex-presidente e tinham previsto se manifestar nesta quinta-feira na capital marfinense.
Seu entorno assegura que Gbagbo volta sem sede de vingança e com a intenção de contribuir a "reconciliação nacional".
O país é sacudido por duas décadas de violência político-étnica. Os últimos incidentes ocorreram nas eleições presidenciais de outubro de 2020, e deixaram uma centena de mortos.
Ouattara foi reeleito pela terceira vez durante estas eleições controversas de 2020, um resultado considerado inconstitucional pela oposição.
Apesar da vontade oficial de não entorpecer a chegada do ex-presidente, as negociações entre o regime e a FPI foram longas. O governo queria que este retorno fosse sem "triunfalismo", mas Gbagbo e seus seguidores queriam que fosse popular.
Gbagbo tem, ainda, outra condenação pendente, de 20 anos de prisão por "roubo" do Banco Central dos Estados Africanos Ocidentais durante a crise de 2010-2011. No entanto, o governo deu a entender que as acusações seriam descartadas.
* AFP