O Quirguistão anunciou, nesta sexta-feira (30), que os intensos combates entre suas tropas e o vizinho Tadjiquistão haviam cessado, com pelo menos 31 mortos.
Os confrontos foram os mais graves nos últimos anos entre os dois países da Ásia Central que disputam vários territórios.
Os combates eclodiram em torno do enclave tadjique de Voruj, em território quirguiz, uma região montanhosa e pobre, onde os incidentes são regulares, mas nunca atingiram tamanha intensidade.
A primeira vice-ministra da Saúde e Desenvolvimento Social, Aliza Soltonbekova, disse em uma entrevista que o Quirguistão registra 31 mortos e 119 feridos.
Um balanço anterior do ministério quirguiz da Saúde citava 13 mortos e 120 feridos. Entre as vítimas fatais no Quirguistão está uma adolescente, informou o governo.
O Tadjiquistão, um país isolado sob um regime autoritário, não divulgou nenhum balanço oficial.
Além disso, 11.500 habitantes de dois distritos da região de Batken foram obrigados a abandonar suas casas.
Os chanceleres dos dois países estabeleceram uma "trégua completa" a partir das 20H00 (11H00 de Brasília) e o "retorno das tropas para suas posições anteriores", de acordo com um comunicado oficial do Quirguistão.
Os disparos esporádicos na região cessaram por volta das 12h desta sexta-feira, segundo a versão quirguiz.
O governo do Tadjiquistão também destaca que as duas partes chegaram a "um acordo mútuo para acabar com o conflito armado e retirar soldados e equipamentos militares para os locais de presença permanente".
De acordo com a assessoria de imprensa do presidente do Quirguistão, Sadir Zhaparov, ele se encontrou com seu homólogo tadjique, Emomali Rakhmon, "em território neutro" na fronteira na sexta-feira.
Os problemas serão resolvidos "nos próximos dias", disse a nota oficial de Biskek.
O presidente do Uzbequistão, Shavkat Mirziyoyev, também mediou entre os dois países, e o russo Vladimir Putin declarou-se disposto a fazer o mesmo.
- Conflitos recorrentes -
Os países têm divergências pela demarcação de territórios durante a época da União Soviética, em particular no que diz respeito à divisão do fértil vale de Fergana, que também compartilham com o Uzbequistão. O traçado das fronteiras separou alguns grupos de seu país de origem.
Mais de um terço da fronteira Quirguistão-Tadjiquistão é alvo de disputa, especialmente a área ao redor do território tadjique de Vorukh, onde explodiram os confrontos de quinta-feira, e as rivalidades aumentaram pelo acesso à água.
As duas partes trocaram acusações pelos confrontos.
O Comitê de Segurança Nacional do Quirguistão afirmou que o país vizinho "provocou deliberadamente um conflito" e acusou o Tadjiquistão de ter "instalado posições para efetuar tiros mortais".
O Conselho Nacional de Segurança do Tadjiquistão acusou o exército quirguiz de abrir fogo contra as tropas tadjiques "na área de abastecimento de água de Golovnaya, no rio Isfara".
O Tajiquistão afirmou que um conflito eclodiu entre civis no dia anterior e que sete tadjiques ficaram feridos quando pedras foram atiradas contra eles.
Em setembro de 2019, vários tiroteios resultaram na morte de três guardas de fronteira tadjiques e um homem do Quirguistão.
Rahmon se reuniu em julho de 2019 com o presidente quirguiz na época, Sooronbai Jeenbekov, e os dois protagonizaram um simbólico aperto de mãos em Isfara, no Tadjiquistão.
Mas as negociações sobre a "delimitação das fronteiras nacionais" e a "prevenção e resolução de conflitos fronteiriços" não apresentaram nenhum resultado.
* AFP