Países ibero-americanos rejeitaram a "concentração" de vacinas nas nações mais ricas, enquanto o coronavírus põe de joelhos vários países do bloco e a Índia, enquanto a Europa promete acelerar uma imunização que avança rapidamente nos Estados Unidos.
Durante a Cúpula Ibero-americana encerrada nesta quarta-feira (21) em Andorra, os 22 países do bloco pediram em sua declaração final "que o acesso, a compra e a distribuição das vacinas (...) sejam universais" e que se evite sua "concentração".
O pedido coincide com o duro impacto da pandemia na América Latina, a segunda região mais enlutada do mundo, com mais de 873.000 mortos e 27,4 milhões de contágios (incluindo o Caribe), que atualmente registra recordes de mortes e infecções.
No Brasil, o país mais afetado da região, os mortos passaram dos 380 mil nesta quarta, totalizando 381.475, segundo números oficiais. Nas últimas 24 horas foram registrados 3.472 óbitos e total de casos totaliza 14.122.795, com 79.719 reportados em um dia.
Em um momento em que a região imunizou menos de 10% da sua população, a maioria das mensagens dos líderes latino-americanos que participaram da Cúpula Ibero-americana por videoconferência, coincidiram: não chegam vacinas em quantidade suficiente, indispensáveis para acabar com a pandemia e começar a recuperação pós-coronavírus.
"Os países ricos, que representam 16% da população, têm 54% das vacinas e têm mais das vacinas de que precisam; é necessário que levantemos a voz juntos diante desta circunstância", afirmou o presidente costa-riquenho, Carlos Alvarado.
- Mau momento -
O sistema Covax, da Organização Mundial da Saúde (OMS), concebido justamente para abastecer com vacinas os países mais pobres, foi duramente criticado por sua demora e insuficiência.
Enquanto isso, a Colômbia autorizou que o setor privado compre e distribua as vacinas anticovid sob condições, enquanto o Panamá permitirá que as mulheres maiores de 50 anos e os homens maiores de 30 se vacinem com a AstraZeneca se o desejarem, sem ter que esperar que chegue a sua vez.
Na Argentina, que registrou quase 30.000 casos em um dia e superou os 60.000 mortos, a ministra da Saúde, Carla Vizzotti, advertiu que o país enfrenta o pior momento da pandemia e pediu que se priorize a saúde à política enquanto a prefeitura de Buenos Aires resiste na justiça ao fechamento temporário de escolas determinado pelo governo federal.
O Comitê de Operações de Emergência (COE) do Equador pediu ao presidente em fim de mandato, Lenín Moreno, decretar um estado de exceção, que inclui um toque de recolher e a obrigação de implementar o teletrabalho nos setores público e privado devido à pandemia.
- "Um furacão" -
Enquanto isso, a Índia, gigante de 1,3 bilhão de habitantes, registrou um recorde de 2.000 mortos em 24 horas e cerca de 300.000 novos casos, em uma das ondas mais graves do coronavírus, que já causou em todo o mundo mais de três milhões de mortes e mais de 142 milhões de contágios desde que a doença foi detectada na China, no final de 2019.
"A situação estava sob controle há algumas semanas e a segunda onda chegou como um furacão", disse na terça-feira o primeiro-ministro, Narendra Modi.
A Índia sofre uma escassez de vacinas e por isso proibiu as exportações do imunizante da AstraZeneca que produz localmente, enquanto os hospitais estão a cada dia mais colapsados.
No resto do mundo, os governos temem repiques similares de casos, enquanto as campanhas de vacinação avançam de forma díspar.
Os Estados Unidos, o país mais afetado em termos absolutos, com mais de 568.00 mortos e 31,8 milhões de casos, alcançou nesta quarta-feira a meta da nova administração de aplicar 200 milhões de doses nos primeiros 100 dias do governo de Joe Biden, que assumiu o cargo em 20 de janeiro.
Apesar de Biden ter qualificado o feito de "assombroso", advertiu para o aumento nas taxas de infecção em algumas partes do país e disse que ainda é cedo demais para cantar vitória.
"Se deixamos de ficar alerta agora (...) este vírus vai apagar o progresso", alertou.
Após uma bem sucedida campanha de vacinação e uma taxa de casos positivos 5% menor, Nova York lançará em junho uma grande campanha para atrair turistas.
Já o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou esperar que seu país alcance a imunidade coletiva no outono no hemisfério norte.
- Novas ferramentas -
Diante dos atrasos na vacinação, os governos tentam se equipar de ferramentas para conter a pandemia adotando outro tipo de medidas, como as restrições e os toques de recolher.
O Parlamento alemão aprovou nesta quarta-feira uma lei polêmica para reforçar os poderes da chanceler Angela Merkel nos âmbitos sanitários e educacional, que inclui medidas como toques de recolher noturnos.
Na Espanha, muitos pacientes tentam se recuperar das sequelas do vírus, sobretudo motoras e respiratórias.
Outros países europeus, como Holanda, Dinamarca e Itália, anunciaram flexibilização nas restrições nos próximos dias, suspendendo toques de recolher e reabrindo áreas externas de bares e restaurantes.
* AFP