O Irã alertou nesta terça-feira (13) que começará a enriquecer urânio a 60%, dois dias após uma explosão, pela qual acusa Israel, danificar uma fábrica de refinamento de urânio em Natanz, no centro do país.
O vice-ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, comunicou "em uma carta a Rafael Grossi", diretor executivo da AIEA, que o Irã está enriquecendo o isótopo 235 de urânio a 20%, muito acima do limite de 3,75% estabelecido no acordo de 2015, informou a agência oficial de notícias Irna.
"Os preparativos (para implementar esta decisão) começarão hoje à noite" em Natanz, anunciou a Agência de Energia Atômica do Irã.
Um refinamento de 60% o colocaria em posição de ir rapidamente para 90% ou mais, necessário para o uso desse mineral para fins militares.
A República Islâmica sempre negou querer produzir a arma nucelar, argumentando que sua moral e sua religião a proíbem.
Por sua vez, a AIEA confirmou que o Irã a comunicou que pretende enriquecer o urânio a 60%, uma decisão que a Casa Branca classificou como uma "provocação", apesar de ter garantido que deseja continuar com as negociações.
"Com certeza estamos preocupados com esses anúncios provocadores", declarou a secretária de imprensa do presidente Joe Biden, Jen Psaki.
"Acreditamos que o caminho diplomático é o único a ser tomado neste caso e que sustentar uma discussão, apesar de indireta, é a melhor forma de encontrar uma solução", acrescentou.
Já a França "condenou" a decisão do Irã e afirmou que requer "uma resposta coordenada" dos países envolvidos nas negociações sobre o programa nuclear iraniano.
Como represália ao restabelecimento das sanções por parte dos Estados Unidos ao se retirarem do acordo, desde 2019 o Irã se afastou da maioria dos compromissos cruciais que assumiu em Viena para limitar suas atividades nucleares.
- "Preservar o acordo" -
Em sua carta, Araghchi também declara que "1.000 centrífugas adicionais com uma capacidade de 50% maior serão somadas às máquinas presentes em Natanz, além de substituírem aquelas que foram danificadas" na explosão de domingo nesse complexo nuclear do centro do país, explicou a Irna.
Os anúncios chegaram horas depois de o ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohamad Javad Zarif, se reunir com seu homólogo russo Serguei Lavrov em Teerã.
Anteriormente, a televisão estatal havia dito que Araghchi saiu de Teerã para Viena, onde acontecem negociações para a retomada dos Estados Unidos ao acordo de 2015 e para que o Irã volte a cumprir os compromissos, com a condição de Washington levantar as sanções ordenadas desde 2018.
No entanto, segundo a Rússia, essa reunião foi adiada para quinta-feira.
"Esperamos que seja possível preservar o Plano de Ação Integral Conjunto e que Washington retorne finalmente", declarou Serguei Lavrov, ao lado do colega iraniano Mohammad Javad Zarif em Teerã.
Lavrov voltou a pedir ao governo dos Estados Unidos que retire as sanções adotadas contra Teerã desde sua saída do acordo, em 2018 durante a presidência de Donald Trump.
Lavrov criticou as recentes sanções da União Europeia (UE) ao Irã, que no seu entender prejudicam as negociações.
Na segunda-feira, a UE adicionou oito funcionários do governo iraniano à lista de pessoas objetos de sanções por sua participação na repressão aos protestos de 2019.
"Na UE não há nenhuma coordenação, a mão direita não sabe o que faz a esquerda. É lamentável", disse Lavrov.
"Se esta decisão foi tomada de maneira voluntária em plena negociação em Viena para salvar (o acordo sobre o programa nuclear iraniano), então é ainda mais lamentável. É um erro que seria pior que um crime", completou.
Teerã acusou Israel de ter sabotado no domingo uma central de enriquecimento de urânio em Natanz, no centro do Irã, no momento em que acontecem negociações em Viena para tentar salvar o acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano assinado na capital austríaca em 2015.
"Pensaram que o que fizeram em Natanz seria em desvantagem do Irã... Eu garanto que em um futuro próximo Natanz vai passar a centrífugas mais aperfeiçoadas, Os israelenses fizeram uma aposta ruim", declarou Zarif.
"Se pensavam que poderiam frear os esforços do Irã para obter a suspensão das sanções contra o povo iraniano, fizeram uma aposta muito ruim", completou.
A Casa Branca afirmou na segunda-feira que Washington "não teve envolvimento de nenhuma maneira" no ocorrido em Natanz.
As discussões de Viena reúnem o Irã e as grandes potências que permanecem no acordo (Alemanha, China, França, Reino Unido, Irã e Rússia), com a mediação da UE. O governo dos Estados Unidos participa, mas sem contato direto com os iranianos.
Joe Biden, que sucedeu Trump em janeiro, expressou a intenção de retornar ao acordo de Viena.
O Irã sempre negou o desejo de desenvolver uma bomba atômica, algo pelo qual o país é acusado pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
* AFP