Os corpos de dois jornalistas espanhóis e de um irlandês defensor da fauna, assassinados no leste de Burkina Faso enquanto acompanhavam uma patrulha contra a caça furtiva, foram transferidos para Ouagadougou enquanto aguardam repatriação.
O governo espanhol anunciou nesta quarta-feira (28) que "já programou um voo do Ministério da Defesa para repatriar os corpos", assim que receber autorização das autoridades do Burkina Faso.
O Ministério das Relações Exteriores espanhol indicou que espera poder repatriar os corpos de David Beriáin e Roberto Fraile "o quanto antes".
Os corpos dos dois espanhóis e do irlandês Rory Young, presidente de uma ONG de proteção à fauna, foram levados de helicóptero para Ouagadougou na noite de terça-feira.
Na segunda-feira, homens armados, em duas caminhonetes e uma dezena de motocicletas, atacaram o comboio de combate à caça furtiva, formado por soldados, guardas florestais, os dois jornalistas espanhóis e o irlandês.
Os três europeus foram sequestrados e, após uma busca intensiva pelas forças de segurança, as autoridades de Burkina Faso anunciaram na terça-feira que eles foram "executados por terroristas". Um militar do país ainda estava desaparecido na quarta-feira e "não há notícias" sobre ele, de acordo com uma fonte do governo.
"Em nossos dias, terroristas enlutam Burkina, matam a cidadãos de Burkina Faso, matam estrangeiros, não é normal, condenamos este ato bárbaro", afirmou o vendedor de livros Jacques Zoungrana, em Ouagadougou.
Na Espanha, imagens de Beriáin e Fraile, em missão durante suas reportagens, ocuparam as primeiras páginas dos jornais e as manchetes dos noticiários de televisão e rádio.
"Muitas vezes os melhores jornalistas importam, aqueles que arriscam a vida em lugares esquecidos e, muitos deles, em condições precárias, quando são mortos ou sequestrados, quase nunca quando fazem reportagens", lamentou o jornal El País em editorial.
- Minuto de silêncio -
Na Espanha, a televisão pública dedicou um minuto de silêncio em homenagem a Beriáin e Fraile, dois jornalistas experientes com experiência em cobertura de guerra e zonas de conflito.
A prefeitura da cidade de origem de Beriáin, Artajona (norte), declarou três dias de luto enquanto a região onde se encontra essa cidade, Navarra, concedeu-lhe o reconhecimento póstumo.
Em Baracaldo (País Basco, norte), onde nasceu Fraile, a prefeitura fez um minuto de silêncio.
Beriáin, de 43 anos, foi o fundador da produtora "93metros" especializada em grandes formatos de documentários, enquanto Fraile, de 47 anos, trabalhou recentemente para o canal de televisão CyLTV (canal Castilla y León).
Na Irlanda, o ministro das Relações Exteriores, Simon Coveney, condenou "nos termos mais veementes" os autores do ataque, lamentando a morte de Young.
Young, que foi inicialmente apresentado como jornalista por fontes de segurança de Burkina Faso e pelo Repórter Sem Fronteiras (RSF), era presidente de uma ONG de proteção à fauna, a Chengeta Wildlife.
Segundo a ONG, Young comandava a patrulha e os dois jornalistas espanhóis filmavam os "esforços para proteger a fauna".
Burkina Faso enfrenta ataques extremistas desde 2015, esses que também afetam Mali e Níger.
A princípio concentraram-se no norte do país, na fronteira com o Mali, as extorsões atribuídas a grupos extremistas - incluindo o Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (GSIM), afiliado à Al Qaeda, e ao Estado Islâmico do Grande Saara (EIGS) - se espalharam para a capital e outras regiões, principalmente no leste e noroeste.
Desde 2015, eles foram responsáveis por mais de 1.300 mortes e um milhão de pessoas deslocadas que fogem de áreas de violência.
* AFP