Milhares de pessoas continuavam a fugir, nesta segunda-feira (29), da cidade portuária de Palma, no norte de Moçambique, desde o fim de semana sob controle do grupo extremista Estado Islâmico (EI), enquanto ONGs e a ONU tentavam ajudar os deslocados.
O EI anunciou nesta segunda que dominou Palma após um ataque inesperado lançado na quarta-feira passada, que provocou dezenas de mortes de acordo com as forças de Moçambique.
Em um comunicado transmitido em um de seus sites de propaganda no Telegram, os extremistas afirmam ter atacado "quartéis militares e a sede do governo (local)", confirmando que tomaram "o controle da cidade" e que provocaram "a morte de dezenas de soldados moçambicanos e cristãos, alguns cidadãos de outros Estados".
No entanto, várias agências da ONU se reuniram nesta segunda para coordenar seus esforços e organizar o transporte para áreas seguras dos milhares de civis que conseguiram fugir da cidade para se refugiar em florestas e praias próximas. Também buscaram abrigo em uma usina de gás da petrolífera francesa Total, localizada a apenas 10 km da cidade.
Desde o ataque inicial de grupos armados em Palma na quarta-feira, milhares de pessoas se refugiaram no perímetro ultraprotegido de milhares de hectares da usina, localizada na península de Afungi.
Entre 6.000 e 10.000 pessoas estão agora abrigadas dentro do complexo, ou tentando obter acesso, de acordo com uma fonte envolvida nas operações de evacuação.
Uma situação complicada, ainda mais porque a construção da usina de gás, prevista para entrar em operação em 2024, está paralisada há vários meses.
Uma balsa, a Sea Star 1, partiu no sábado com cerca de 1.400 trabalhadores e residentes de Palma com destino a Pemba, capital da província de Cabo Delgado. Há mais de um ano, a cidade recebe ondas de deslocados que fogem da violência terrorista.
E muitas canoas e barcos tradicionais, carregados de civis, continuam a chegar a Pemba, segundo uma fonte envolvida nas operações de evacuação.
A polícia e o Exército estiveram no domingo na praia principal de Paquitequete, impedindo o acesso à imprensa, segundo um fotógrafo da AFP no local.
- Dezenas de desaparecidos -
Os grupos armados, que há mais de três anos aterrorizam esta região de fronteira com a Tanzânia, intensificaram seus ataques no ano passado.
Desde agosto de 2020 controlam o porto estratégico de Mocímboa da Praia, fundamental para a chegada dos materiais necessários às instalações de gás. Apesar de várias tentativas, os militares moçambicanos nunca conseguiram retomá-lo.
Os grupos armados agora também controlam grande parte da área costeira.
O ataque em grande escala de quarta-feira em Palma deixou dezenas de civis mortos, confirmou o Ministério da Defesa de Moçambique na noite de domingo.
E "mais de 100 pessoas ainda estão desaparecidas", disse à AFP o pesquisador Martin Ewi, do Instituto de Estudos de Segurança de Pretoria.
Cerca de 12 caminhões carregados de civis que fugiam de um hotel em Palma, onde se refugiaram, estão desaparecidos desde sexta-feira, aumentando o temor de muitas mortes.
"Provavelmente várias pessoas foram mortas tentando escapar do hotel Amarula quando seu comboio foi atacado", disse a diretora regional da Human Rights Watch, Dewa Mavhinga.
Adrian Nel, um sul-africano de 40 anos que trabalhava na construção em Palma com seu pai e irmão, está entre as vítimas, disse sua mãe à AFP.
"Meu filho morreu em um dia violento e desnecessário", afirmou.
Os extremistas atacaram esta cidade de 75 mil habitantes, na quarta-feira, em três frentes simultâneas. "Atiraram para todos os lados", deixando um rastro de cadáveres nas ruas. O número total de vítimas é desconhecido.
* AFP