A Amnistia Internacional denunciou nesta segunda-feira (22) detenções arbitrárias e "atos de tortura" no Líbano contra cerca de vinte refugiados sírios, alguns deles menores de idade, e criticou o uso de "tratamento cruel e discriminatório".
Em um novo relatório, a organização internacional detalha os casos de 26 sírios (incluindo quatro menores e duas mulheres), detidos por alguns meses ou anos entre 2014 e o presente por acusações de "terrorismo". Seis homens ainda estão detidos.
Com exceção de um caso, os refugiados questionados relataram "atos de tortura" durante o interrogatório ou prisão, afirma a Anistia, que aponta o dedo para os serviços de inteligência militar, Segurança Geral e o Ministério da Defesa do Líbano.
Alguns detidos afirmam que foram pendurados pelos pulsos, outros denunciaram "espancamentos com barras de ferro, cabos elétricos e tubos de plástico".
"Quatro homens alegaram que foram espancados em suas 'partes sensíveis'" (órgãos genitais), enfatiza o relatório, e quatro detidos disseram que "desmaiaram" com os espancamentos.
"Os detidos disseram que foram submetidos a algumas das técnicas de tortura comumente usadas nas prisões sírias", lamenta a Anistia.
A maioria das prisões ocorreu depois de 2014, quando a guerra na vizinha Síria alcançou o Líbano. O Estado Islâmico (EI) e a Frente Al Nosra (ex-braço da Al Qaeda na Síria) invadiram a cidade de Aarsal (leste) na fronteira com o Líbano, capturando soldados e policiais.
O exército libanês e o movimento xiita Hezbollah então lançaram operações militares contra os terroristas.
Embora reconheça que "membros de grupos armados" devem ser responsabilizados, a Anistia critica as autoridades libanesas por "um total desrespeito pelo direito internacional dos direitos humanos".
A Anistia afirma que entrou em contato com os ministros Libaneses do Interior, Defesa e Justiça para que comentassem a investigação da ONG.
Além da tortura, a organização menciona detenções "arbitrárias", às vezes baseadas em "relatórios fornecidos por informantes ou no conteúdo de um telefone celular".
"Em nove casos, o simples ato de expressar oposição política ao governo sírio foi considerado uma prova para justificar uma acusação por terrorismo", lamenta a Anistia.
Pelo menos 14 detidos disseram à Anistia que "confessaram" depois de serem torturados ou ameaçados.
O Líbano afirma abrigar 1,5 milhão de sírios, dos quais quase um milhão de refugiados. Nove em cada dez vivem em extrema pobreza, de acordo com a ONU, e as organizações dizem que muitas vezes sofrem discriminação.
* AFP