O segundo turno das eleições presidenciais no Níger, um país assolado pela violência jihadista, foi marcado neste domingo(21) pela morte de sete membros da comissão eleitoral, cujo veículo explodiu ao passar por cima de uma mina.
Quase dois meses após o primeiro turno, realizado em 27 de dezembro, os nigerinos escolherão entre os dois candidatos mais votados, Mohamed Bazoum, apadrinhado pelo presidente em fim de mandato Mahamadou Issoufou e beneficiado pela imponente máquina do governista Partido Nigerino para Democracia e Socialismo (PNDS) e Mahamane Ousmane, presidente entre 1993 e 1996.
Bazoum teve 39,3% dos votos no primeiro turno, e Ousmane, 17%.
Mas a ida às urnas foi marcada pela morte de sete membros da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI), cujo veículo explodiu ao passar por cima de uma mina, na região de Tillaberi (oeste), perto de Mali, informou o governador local, Tidjani Ibrahim Katiella, à AFP.
"São presidentes de centros de votação e seus secretários", contratados pelo CENI, explicou, especificando que a explosão também deixou três feridos.
No início de janeiro, após o primeiro turno das eleições presidenciais, cem pessoas perderam a vida no ataque a duas cidades da mesma região, um dos piores massacres de civis no país, vítima de violência.
Uma votação em âmbito nacional é um dos principais desafios destas eleições, uma vez que o oeste é tomado pela violência de jihadistas filiados ao grupo Estado Islâmico (EI) e jihadistas nigerianos do Boko Haram operam no leste.
- Calma e segurança -
O estudante Idrissa Gado, de 29 anos, foi votar logo cedo em Niamey. "O próximo presidente terá que combater os rebeldes. É a grande preocupação do Níger, queremos calma e segurança", pediu.
Bazoum votou na prefeitura de Niamey, onde veículos blindados e caminhões equipados com metralhadoras garantiam a segurança.
"Espero que o vencedor tenha sorte, e que ela esteja do meu lado. E tenho muitos motivos para acreditar que seja esse o caso", disse ele após votar, manifestante o desejo de que "a consulta transcorra em paz".
Acompanhado de suas duas esposas, o presidente em final de mandato, Mahamadou Issoufou, votou na mesma circunscrição. Ele destacou que "o Níger enfrenta imensos desafios: segurança, demografia, clima, desenvolvimento econômico e social, incluindo a questão sanitária, a covid-19 de imediato".
"Tenho orgulho de ser o primeiro presidente eleito democraticamente da nossa história a entregar o cargo a outro também eleito democraticamente. É um marco muito importante na vida política do nosso país", acrescentou.
Esta será a primeira vez que um presidente eleito sucederá a outro, em um país que sofreu golpes de Estado desde sua independência em 1960.
Já Mahamane Ousmane votou em um bairro popular de Zinder (sudeste), seu reduto e cidade natal.
"Se os cidadãos constatarem que estas eleições foram, mais uma vez, [...] fraudulentas, receio que a situação seja difícil de administrar", alertou.
- Jogos de alianças -
No Níger, as alianças mudam constantemente, mas são essenciais para ganhar a Presidência. Importantes partidos políticos deram seu apoio ao candidato da situação, algo crucial para Bazoum. Muitos duvidam, porém, que tal apoio se transforme em votos.
"A vitória não está garantida", disse à AFP Ibrahim Yahya Ibrahim, pesquisador do International Crisis Group (ICG).
Embora os eleitores da capital tendam a votar na oposição, em Zinder (sudeste), a segunda cidade, isso é menos previsível.
"O resultado em Zinder determinará o resultado eleitoral", disse um observador da política local à AFP, pedindo para não ser identificado.
Dezenas de observadores da Comunidade Econômica da África Ocidental (CEDEAO) foram destacados para acompanhar o processo.
A participação será determinante.
* AFP