Duas jornalistas bielorrussas foram condenadas nesta quinta-feira (18) a dois anos de prisão, acusadas de incitar incidentes durante a cobertura do movimento de protesto de 2020 no país, uma nova demonstração da repressão orquestrada pelo regime de Minsk.
Apoiado pela Rússia, o presidente Alexander Lukashenko, no poder desde 1994, esforçou-se para travar o movimento histórico, apesar das críticas e sanções internacionais.
Daria Shultsova e Katerina Bakhvalova, correspondentes do canal de televisão opositor Belsat, que tem sede na Polônia, foram detidas em 15 de novembro. Elas estavam em um apartamento, de onde haviam filmado a violenta dispersão de uma manifestação em homenagem ao ativista Roman Bodarenko, assassinado poucos dias antes.
A condenação é a primeira para jornalistas desde o início dos protestos no país, em meados de 2020.
O poder "não conseguiu subjugá-las ou intimidá-las, elas são livres, apesar de tudo", reagiu a líder da oposição no exílio, Svetlana Tikhanovskaya.
As duas jornalistas, de 23 e 27 anos, declararam-se inocentes e se consideram vítimas da repressão que atingiu o movimento de protesto organizado após a polêmica reeleição do presidente Alexander Lukashenko em agosto de 2020. A votação foi marcada por acusações de fraude.
Durante o processo, mantidas no cubículo reservado aos detentos, as duas se mostraram sorridentes e fizeram o V com os dedos, símbolo de vitória e gesto que identifica os críticos de Lukashenko.
A Promotoria acusou as duas mulheres de incitarem a população a protestar de maneira ilegal com suas reportagens, o que foi considerado um "atentado grave contra a ordem pública".
"Eu mostrei os fatos no ar e me colocaram na prisão por isso, inventando acusações", disse Bakhvalova na quarta-feira à noite, em sua última intervenção antes da deliberação do tribunal.
- Situação "absurda" -
"É uma situação absurda, porque as jornalistas só estavam cobrindo manifestação", declarou nesta quinta-feira o advogado Serguey Zikratsky após o anúncio da sentença.
Aleksy Dzikawicki, vice-diretor da Belsat, denunciou o "terror criminoso" no Twitter.
A Human Rights Watch, por sua vez, exortou as autoridades bielorrussas a "pararem de tratar os jornalistas como seus inimigos", enquanto a presidência polonesa pediu uma "anistia".
A União Europeia "condenou veementemente" a "vergonhosa repressão da imprensa" em Belarus, através de Peter Stano, porta-voz do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
"Estamos ao lado do bravo povo bielorrusso e apoiamos seu direito a eleições livres e justas", disse o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, em um comunicado.
Os Estados Unidos anunciaram restrições à concessão de vistos a 43 novos funcionários e personalidades bielorrussas implicados na repressão.
Lukashenko enfrentou durante meses protestos sem precedentes, que foram reprimidos e reduzidos ao silêncio com detenções e violência policial, com vários depoimentos de torturas.
Todas as figuras de destaque da oposição estão detidas, ou partiram para o exílio. Milhares de manifestantes também foram detidos.
Além disso, onze jornalistas estão atualmente presos, processados em várias investigações relacionadas aos protestos, de acordo com a Associação de Jornalistas de Belarus.
De maneira paralela, o procurador-geral anunciou nesta quinta-feira que uma investigação sobre a morte em novembro de Roman Bondarenko descartou a responsabilidade da polícia.
Na sexta-feira começará o julgamento contra a jornalista Katerina Borisevich e o médico Artiom Sorokin.
Detidos há três meses, são acusados de "revelar segredos médicos" ao publicar um documento que mostra que Roman Bondarenko estava sóbrio no momento de sua morte, ao contrário do que afirmam as autoridades. A jornalista e o médico arriscam uma pena de três anos.
* AFP