Há poucos eventos na história dos Estados Unidos que se aproximam de 1 milhão de mortos. Estima-se que a gripe espanhola, de 1918, tenha matado 675 mil americanos, de acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças, quando a população era um terço do que é hoje. Mas isso ocorreu quando ainda não existiam vacinas contra a gripe, antibióticos, ventilação mecânica e outros recursos médicos.
Drew Gilpin Faust, historiador e ex-presidente da Universidade Harvard, disse que as conquistas médicas e sociais nos EUA levaram muitos americanos a acreditar que estavam prontos para qualquer coisa, que "havíamos conquistado a natureza".
— Quando montaram hospitais de campanha no Central Park (em Nova York) e corpos começaram a ser empilhados porque não havia capacidade para enterrá-los, ficamos chocados e não pensamos que isso aconteceria conosco — disse Faust. — O senso de domínio sobre a natureza foi seriamente desafiado pela pandemia.
Os óbitos pelo coronavírus nos EUA ocorreram mais rapidamente à medida que a pandemia avançava. A primeira morte foi registrada em fevereiro de 2020. Em 27 de maio, 100 mil pessoas já haviam morrido. Demorou quatro meses para o país registrar outras 100 mil mortes e mais três até a marca de 300 mil óbitos. As 400 mil mortes chegaram apenas cinco semanas depois.
Embora a velocidade de contágio pareça diminuir, cerca de 1,9 mil americanos morrem, em média, por dia – 29 milhões de pessoas tiveram covid-19 nos EUA, quase o triplo de casos registrados no Brasil, segundo a Universidade Johns Hopkins.
— É mais um dia triste em nossa história — disse Ali Mokdad, epidemiologista da Universidade de Washington. — Nossos netos e as gerações futuras olharão para trás e nos culparão pelo fracasso em enfrentar uma pandemia no país mais rico do mundo. Permitimos que as pessoas morressem, não protegemos nossa população mais vulnerável, indígenas, latinos e negros. Não protegemos nossos trabalhadores mais essenciais.
Ainda levará meses para vacinar toda a população americana, e novas variantes mais contagiosas do vírus podem desfazer rapidamente o progresso da imunização e provocar outro pico de covid-19. O Institute for Health Metrics and Evaluation, centro de pesquisa em saúde global da Universidade de Washington, projetou que os EUA poderiam atingir mais de 614 mil mortes até 1º de junho.
Segundo os pesquisadores, porém, fatores como o uso de máscaras, o distanciamento social e a velocidade da vacinação podem afetar essa estimativa.