A Itália, duramente atingida na primeira onda do coronavírus, é hoje a exceção da Europa — onde o ressurgimento da covid-19 é quase geral — com um número limitado de novos casos graças às rígidas medidas contra a doença, que foram elogiadas pela OMS na sexta-feira (25).
A França, por exemplo, registrou na quinta-feira um número recorde de 16.096 novos casos de covid-19 em 24 horas, enquanto o número de contágios diários na Itália, que realiza mais de 120 mil testes diários (180 mil na França), se mantém há semanas abaixo dos 2 mil.
Como explicar essa especificidade italiana?
Em entrevista com a AFP, o professor Massimo Andreoni, especialista renomado em infecções no hospital romano de Tor Vergata, adianta "várias razões".
— A epidemia atingiu a Itália mais cedo, o que sensibilizou este problema e fez com que um plano de confinamento muito severo fosse implementado imediatamente. A Itália foi o primeiro país a realizar um confinamento total que durou várias semanas e ainda estamos nos beneficiando disso — destaca.
Ele também menciona "a reabertura muito progressiva e muito lenta do país, que nem terminou ainda".
— Os estádios estão fechados, as casas de festa voltaram a fechar, as escolas não estão todas abertas — lista ele, apesar de a volta às aulas ter começado em 14 de setembro. — Além disso, os italianos respeitam muito bem as regras. Quando vejo as imagens de outras cidades europeias, vejo muito mais gente sem máscara do que na Itália — comenta.
"Bons alunos"
Outro exemplo da mobilização na Itália, um país criticado por sua organização caótica e pelo peso de sua burocracia, é o aeroporto de Roma-Fiumicino — o primeiro do mundo a receber a nota máxima de cinco estrelas, concedida pelo órgão de qualificação Skytrax, devido à sua gestão sanitária da covid-19.
O aeroporto romano é elogiado por seus controles de temperatura, pelo uso obrigatório de máscara, pela disponibilização de álcool em gel, distanciamento físico e pelo controle do número de visitantes nas lojas.
— Acredito que os italianos tentam seguir as normas da melhor forma possível — confirma Giacomo Rech, proprietário do Green Tea, um restaurante de cozinha chinesa, a dois passos do Panteão, em pleno centro de Roma.
No entanto, apesar desta situação tranquilizadora, o professor Andreoni quer ser "prudente":
— Em duas ou quatro semanas, quando todas as escolas estiverem abertas, veremos qual será o impacto e se a Itália conseguirá manter esses níveis baixos (de contágios) ou se irá se aproximar dos níveis da França ou Espanha. Para saber se realmente fomos bons alunos, é preciso esperar ainda um mês.