Uma pessoa morreu em um tiroteio na cidade americana de Portland, após confrontos entre manifestantes antirracistas e seguidores do presidente Donald Trump, informou a polícia neste domingo (30).
Os protestos contra o racismo - algumas vezes violentos - que se multiplicam nas cidades americanas se tornaram um tema quente na campanha para as eleições presidenciais de novembro. Trump se apresenta como a opção da lei e da ordem e desqualifica seu adversário, o democrata Joe Biden, que diz ser fraco para combater o crime.
Segundo boletim policial deste domingo, a força recebeu no sábado alertas de tiros por causa de atos de violência provocados depois que veículos com seguidores de Trump fizeram "uma caravana pelo centro de Portland".
Os agentes "responderam e localizaram uma vítima com um ferimento a bala no peito. Os médicos responderam e determinaram que a vítima tinha falecido", informou a polícia em um comunicado.
Em um tuíte, a força informou antes sobre a ocorrência de "atos de violência entre manifestantes e contramanifestantes. A polícia interveio e houve algumas detenções". Depois, acrescentou que deteve uma dezena de pessoas, sem dar detalhes sobre se eram apoiadores ou opositores a Trump.
A polícia não indicou, no entanto, se o tiroteio registrado por volta das 20h45 locais de sábado (01h45 de domingo em Brasília) em que a pessoa morreu estava vinculado às manifestações.
Fotos da cena mostram a vítima com um boné com o logotipo "Patriot Prayer" (Prece Patriota), descrita pela imprensa local como um grupo de extrema direita que esteve no centro de múltiplas manifestações em Portland que terminaram em violência.
Detetives disseram que foi aberta uma investigação por homicídio.
- Trump contra Portland -
Portland é, há meses, epicentro de protestos do movimento 'Black Lives Matter' (Vidas Negras Importam), desde que novos casos de violência policial suspenderam uma mobilização histórica pelos direitos desta comunidade com uma força que não era vista há décadas no país.
Trump reagiu enviando dezenas de tuítes e retuítes no domingo, criticando a atuação do prefeito de Portland, o democrata Ted Wheeler, e sua negativa de chamar a Guarda Nacional, e em nível mais amplo, denunciando o que considerou a negligência de cidades governadas pelos democratas diante da violência.
A Guarda Nacional "poderia resolver estes problemas em menos de uma hora", afirmou.
Biden, por sua vez, condenou a violência, dizendo que o presidente tem incidência nos confrontos entre manifestantes.
"Ele (Trump) está incentivando a violência de forma irresponsável", disse o ex-vice-presidente em um comunicado publicado neste domingo.
"Talvez ele acredite que tuitar sobre a lei e a ordem o torna forte, mas sua incapacidade de chamar seus seguidores a deixarem de buscar conflitos mostra justamente o quão fraco ele é", acrescentou.
Wheeler compartilhou na sexta-feira uma carta aberta a Trump, na qual denunciou a "política de divisão e demagogia" do presidente.
"Sabemos que chegou à conclusão de que as imagens de violência ou vandalismo são seu único bilhete para a reeleição".
- Novo impulso ao movimento antirracista -
Os enfrentamentos em Portland ocorrem após uma semana de protestos em todo o país, que incluíram uma paralisação histórica do esporte, pela indignação gerada por mais um caso de violência policial contra um homem negro.
Há uma semana, Jacob Blake, um afro-americano de 29 anos, levou vários tiros, disparados por um policial que tentava detê-lo. Embora tenha sobrevivido, ele provavelmente ficará paraplégico.
O caso de Blake, ocorrido em Kenosha, Wisconsin, deu novo impulso à indignação do movimento antirracista, iniciado em maio em todo o país, após a morte, em Minnesota, de George Floyd, um homem negro asfixiado por um policial branco.
Os distúrbios que se sucederam aos disparos em Blake causaram duas mortes em Kenosha, onde as autoridades detiveram um jovem de 17 anos, que suspeitam ter apertado o gatilho, matando dois homens e ferindo um terceiro.
Trump viajará na próxima terça-feira para esta cidade de Wisconsin, no Meio Oeste americano, para se reunir com os funcionários encarregados de fazer cumprir a lei e "examinar os danos dos distúrbios recentes", anunciou a Casa Branca no sábado.
* AFP