A líder da oposição em Belarus, Svetlana Tikhanovskaya, desafiou nesta sexta-feira (21) o presidente Alexander Lukashenko ao afirmar que o povo bielorrusso "nunca mais" aceitará sua liderança, enquanto o poder abriu um processo judicial contra o movimento opositor.
"O presidente já deveria saber que precisamos de uma mudança", disse Svetlana Tikhanovskaya a repórteres em Vilnius, em seu primeiro discurso desde que se refugiou na Lituânia, em 11 de agosto.
O povo bielorrusso "nunca mais aceitará a atual liderança", garantiu.
A opositora, que reivindica a vitória na eleição presidencial de 9 de agosto e denuncia fraudes, "espera que o bom senso prevaleça, que o povo seja ouvido e que haja novas eleições".
Svetlana deixou claro que retornará ao seu país quando "se sentir segura", enquanto as autoridades bielorrussas lançaram na quinta-feira um processo judicial por "ataque à segurança nacional" contra o "conselho de coordenação" formado pela oposição para promover a transição política.
A oposição rejeita o resultado da eleição presidencial, que deu a Lukashenko vitória com 80% dos votos.
Lukashenko, que enfrenta manifestações diárias e uma greve desencadeada pela oposição, garantiu nesta sexta-feira que "resolverá o problema".
"Esse é o meu problema, que devo resolver e nós resolvemos. E acreditem, nos próximos dias ele estará resolvido", acrescentou, citado pela agência de notícias estatal Belta.
No entanto, para Svetlana Tikhanovskaya, uma professora de inglês de 37 anos, nova na política, que virou de ponta cabeça a campanha presidencial ao reunir multidões sem precedentes em seus comícios e obter o apoio de outros opositores, os bielorrussos "nunca serão capazes de perdoar e esquecer toda a violência de que foram alvos".
Um pouco nervosa, ela se recusou a responder a perguntas sobre sua própria segurança. "Quanto às ameaças, preferiria não abordar este assunto neste momento", disse.
- "Medo e mentiras" -
"Todos têm medo hoje em nosso país, mas é nossa missão superar esse medo e seguir em frente", disse Tikhanovskaya.
A UE rejeitou na quarta o resultado da eleição e prometeu sanções adicionais contra as autoridades por trás da "violência, repressão e fraude eleitoral".
Questionado sobre o apoio russo a Lukashenko, Tikhanovskaya respondeu: "Apelo a todos os países do mundo para que respeitem a soberania de Belarus".
A atitude da Rússia, o aliado mais próximo de Belarus, será essencial para o fim da crise.
Até agora, Moscou alertou principalmente contra qualquer "interferência estrangeira" nos "assuntos internos" de seu vizinho.
"Não queremos mais viver com medo e mentiras", disse Tikhanovskaya, conclamando os trabalhadores em greve a coordenarem com o conselho de coordenação.
"A criação do conselho de coordenação visa negociar uma transferência suave", afirmou a opositora.
Um membro do conselho, o advogado Maxim Znak, apresentou-se às autoridades em Minsk esta manhã para interrogatório. "Um por todos, todos por um!", exclamaram os manifestantes à sua chegada.
Esse conselho foi veementemente denunciado pelo presidente bielorrusso, que o vê como uma tentativa da oposição de "tomar o poder" e ameaçou "esfriar alguns cabeças quentes".
A União Europeia denunciou nesta sexta-feira o processo por parte das autoridades bielorrussas contra o conselho de coordenação, qualificando esta atitude de "intimidação".
Ao responder à constituição deste conselho com a abertura de um processo penal, "as autoridades do Estado bielorrusso voltaram a recorrer à intimidação por motivos políticos", disse uma porta-voz da UE, Nabila Massrali.
"Pedimos às autoridades bielorrussas que ponham fim a esta investigação e retomem o diálogo para encontrar uma saída para esta crise", acrescentou.
A ONU, por sua vez, disse estar "extremamente preocupada" com o destino de cerca de 100 manifestantes presos, embora milhares de outros tenham sido libertados.
"Pedimos às autoridades bielorrussas que libertem imediatamente todos aqueles que foram arbitrariamente ou ilegalmente presos", disse Elizabeth Throssel, porta-voz do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
* AFP