A Rússia intensificou nesta quinta-feira (4) os esforços para limpar a enorme quantidade de petróleo derramada em um rio no Ártico, descrito por ambientalistas como o pior incidente desse tipo na região, enquanto uma autoridade local foi detida.
O presidente Vladimir Putin interveio pessoalmente na crise, na quarta-feira, declarando estado de emergência e pedindo ordem às autoridades locais. Equipes de limpeza adicionais foram enviadas nesta quinta.
Como parte da investigação, Viatcheslav Starostine, funcionário da usina termelétrica pertencente à NTEK, subsidiária da gigante Norilsk Nickel, foi colocado em prisão preventiva por um mês, informou um tribunal da cidade de Norilsk à agência de notícias TASS.
Um dos reservatórios de diesel da usina rompeu na semana passada, causando o vazamento de mais de 20.000 toneladas de petróleo.
De acordo com o Serviço de Emergência Marítima da Rússia, especializado nesses acidentes, os reforços enviados para a área, muito isolada e pantanosa, enfrentam um desafio complexo.
"Nunca houve um vazamento desse tipo no Ártico antes. Precisamos trabalhar muito rapidamente, porque o combustível está se dissolvendo na água", disse o porta-voz do serviço, Andreï Malov.
A organização ecológica Greenpeace Rússia afirma que o acidente "é o primeiro dessa escala no Ártico" e o comparou ao naufrágio do Exxon Valdez, no Alasca, em 1989.
O rio Ambarnaïa, afetado por esse vazamento, une-se ao lago Piassino, na origem de um rio com o mesmo nome, fundamental para a península de Taimyr, uma região estratégica onde a Rússia extrai metais preciosos, carvão e hidrocarbonetos.
Segundo Malov, seis rampas de contenção foram colocadas no rio para bloquear o fluxo de poluição para o lago, enquanto o combustível é bombeado para a superfície.
"É um terreno difícil e tudo o que precisa ser transportado só pode ser transportado por veículos todo-o-terreno", ressaltou.
Já o combustível coletado deve ser armazenado no local até o inverno em recipientes especiais.
A dificuldade da operação levou algumas autoridades a proporem queimar o combustível no local, o que a agência ambiental russa excluiu.
O porta-voz da Agência de Pesca, Dmitri Klokov, disse à agência de notícias TASS que levaria "décadas" para restaurar o ecossistema.
"A escala deste desastre está subestimada", disse ele, acrescentando que a maior parte do combustível foi para o fundo do rio e já chegava ao lago.
Os responsáveis pela usina foram criticados na quarta-feira pela demora na resposta à crise. O governador da região admitiu que soube da extensão real do vazamento apenas dois dias depois, pelas mídias sociais.
Três investigações criminais foram abertas. Segundo o Ministério Público, 180.000 metros quadrados de terra também foram poluídos antes que o petróleo chegasse ao rio.
Norilsk Nickel, o maior produtor mundial de níquel, disse que o reservatório foi danificado quando os pilares que o sustentavam "por 30 anos" começaram a afundar. Esse fenômeno pode estar ligado ao derretimento do permafrost causado pelas mudanças climáticas.
Um especialista da ONG WWF, Alexei Knijnikov, comentou, porém, que a lei russa exige que qualquer reservatório desse tipo seja cercado por uma estrutura de contenção, o que teria evitado o acidente.
"Grande parte da responsabilidade recai sobre a empresa", apontou.
* AFP