A Rússia fez um pequeno gesto de abertura em relação à Arábia Saudita, evocando nesta terça-feira a renovação de sua cooperação com a Opep após a decisão de Riade de inundar o mercado de petróleo para continuar sendo o principal ator do mercado.
A Rússia, segunda maior produtora mundial de petróleo, mas que não é membro da OPEP, recusou na sexta-feira uma redução adicional de 1,5 milhão de barris por dia (bpd) para apoiar os preços do petróleo em razão da epidemia de coronavírus. As companhias de petróleo russas temem por sua participação no mercado e desejam competir com o xisto americano.
A Arábia Saudita reagiu anunciando a maior redução dos seus preços em 20 anos para ganhar participação de mercado, resultando, porém, numa queda maciça dos preços e dos mercados financeiros em todo o mundo.
"A porta não está fechada", disse nesta terça o ministro russo da Energia, Alexander Novak.
Se o atual acordo de redução de produção entre a OPEP e seus aliados não foi estendido além do final de março, isso "não significa que no futuro não seremos mais capazes de cooperar entre os países da OPEP e não-OPEP" para estabilizar o mercado, afirmou.
As palavras conciliadoras de Novak foram lançadas logo após um segundo golpe dado por Riade nessa guerra de preços.
A gigante do petróleo Saudi Aramco anunciou planos para aumentar sua produção para 12,3 milhões de bpd a partir de abril. Essa decisão inunda um mercado enfraquecido pela crise do novo coronavírus, que atingiu com toda a força a China, a maior consumidora mundial de petróleo.
Como maior exportador mundial de petróleo, a Arábia Saudita bombeia atualmente cerca de 9,8 milhões de bpd.
Isso "mostra que os sauditas têm algo a provar", estima Bill Farren-Price, diretor do centro de pesquisa britânico RS Energy. "Está conquistando participação de mercado", disse ele à AFP.
- Contra o petróleo americano -
Alexander Novak, que enfatizou na segunda-feira a solidez da Rússia nessa tempestade graças a reservas abundantes, também destacou que Moscou está pronto para estender no segundo trimestre o atual acordo de redução de produção em vigor até final de março, uma redução de 1,7 milhão de barris por dia em relação ao nível de outubro de 2018.
Mas o ministro russo também alertou que "a curto prazo, a Rússia pode aumentar sua produção em 200/300.000 bpd, com um potencial de 500.000 bpd em um futuro próximo".
Ele receberá os chefes dos grupos petroleiros envolvidos na quarta-feira, incluindo Igor Setchine, chefe da poderosa Rosneft e próximo a Vladimir Putin.
"À primeira vista, parece uma batalha entre a Rússia e a Arábia Saudita sobre a política de petróleo. Mas o contexto de aumento constante da produção de petróleo dos Estados Unidos nos últimos dez anos também é um fator importante", afirmou Chris Weafer, fundador da empresa de consultoria Macro Advisory.
Ele lembra que os países da aliança OPEP+ estão "irritados pela recusa americana em participar das reduções de produção e com o fato de a indústria americana ter sido a principal beneficiária dos mecanismos de suporte de preços".
Portanto, embora não se possa falar de esforços conjuntos de Moscou e Riade para pressionar o petróleo de xisto americano, os países da OPEP e a Rússia ficariam "aliviados se a guerra de preços resultasse em perdas para os Estados Unidos", acrescentou o especialista.
Bjarne Schieldrop, analista da SEB, disse que a queda nos preços afetará a todos, mas no final "são os produtores americanos de petróleo xisto que terão que recuar e reduzir a produção. Esse não será o caso para a Rússia nem para a Arábia Saudita".
Finalmente, de acordo com Timothy Ash, analista da BlueBay Asset Management, as apostas geopolíticas nunca ficam muito atrás na análise russa.
Na crise ucraniana, na Síria e agora no petróleo, Moscou tenta provar que é essencial.
Putin quer voltar "com alarde no cenário internacional" ao lado de Trump e Xi Jinping, disse Ash.
* AFP