Um inédito ataque na sede do principal serviço secreto russo, no prédio da antiga KGB, em Moscou, na Rússia, deixou pelo menos um morto e vários feridos nesta quina-feira (19). Armado com um fuzil Kalachnikov, ele descarregou a arma até ser baleado e morto pela segurança. As autoridades classificam o caso como um ato de terrorismo.
Segundo relatos da imprensa local, um homem entrou na recepção do edifício na praça Lubianka, no centro da capital russa, às 17h40min (11h40min em Brasília). Já a polícia afirma que ele não chegou a entrar no salão, tendo disparado do lado de fora.
Segundo o jornal Izvestia, pelo menos três pessoas morreram. O governo não informou números exatos de vítimas, falando apenas em "diversos feridos". A região no entorno do local foi cercada.
Ainda não há identidade ou motivação do agressor. Mesmo os detalhes do ocorrido estão confusos, dado que testemunhas disseram ter ouvido vários tiros fora do edifício também, o que pode sugerir a presença de outros envolvidos.
Os detalhes tendem a ser esparsos, dada a rigidez no controle de informação do Serviço Federal de Segurança (FSB), a agência que herdou o prédio e as funções de controle interno da KGB, desmembrada após o fim da União Soviética em 1991. O comunicado do órgão falava apenas em incidente "próximo do prédio 12 da rua Bolshaia Lubianka".
O tiroteio ocorreu poucas horas após Putin conceder sua tradicional entrevista coletiva de fim de ano. Na sexta (20) haverá um feriado dos serviços de segurança, mas o FSB não correlacionou a data ao ataque.
Outros ataques
Já houve ataques a instalações do FSB antes, como num atentado suicida que deixou feridos na sede regional do serviço em Arkhangelsk, no norte do país, em 2018. Contra a sede, no entanto, só se tem conhecimento de uma performance feita por um artista em 2015, que colocou fogo numa das portas de madeira maciça do prédio e acabou preso. Ele protestava contra a influência do FSB no governo -aliados do presidente Vladimir Putin, que foi diretor do órgão antes de chegar ao poder em 1999, vieram do serviço e ocupam posições estratégicas na Rússia.
O incidente mais grave nas redondezas ocorreu em 2010, quando terroristas islâmicas contrárias ao domínio russo da Tchetchênia atacaram a estação de metrô do outro lado da praça, também chamada de Lubianka, e mataram 26 pessoas. A ação foi coordenada com outra explosão na estação Park Kulturi, e o total de mortos chegou a 40.
O prédio na praça Lubianka é um dos mais famosos símbolos da repressão do antigo império comunista, tendo abrigado a toda-poderosa KGB até 1991. Naquele ano, com a queda do regime, a primeira estátua a ser derrubada na capital foi justamente a de Félix Djerzinski, fundador do serviço que antecedeu a KGB, a Tcheka.
Hoje a estátua pode ser vista em um parque de esculturas à beira do rio Moscou. O FSB herdou o mastodôntico edifício, que também abrigou a prisão da KGB e chegou a ter um pequeno museu operando. Mesmo com o relaxamento da vida pós-soviética, é comum que turistas tirando selfies muito próximas do prédio sejam advertidos por guardas mal-encarados.
Isso mudou um pouco durante o mês da Copa do Mundo de 2018, quando era possível fazer fotos bem próximas do prédio. Na frente dele, atravessando a enorme praça onde antes estava a estátua de Djerzinski, fica o começo da rua para pedestres Nikolskaia, um dos pontos focais das festas dos fãs do Mundial, com suas luzes suspensas e bares num caminho que deságua junto ao Kremlin.