Um dia após ser nomeada pelo Congresso para assumir a presidência do Peru, a vice-presidente Mercedes Aráoz anunciou sua renúncia e defendeu a antecipação de eleições gerais. O país vive uma crise após o presidente, Martín Vizcarra, dissolver o parlamento — que respondeu suspendendo o chefe do Executivo temporariamente do cargo e indicando Araóz para a função.
"Comunico minha decisão de renunciar, de maneira irrevogável, ao cargo de segunda vice-presidente Constitucional da República" e "declino o encargo conferido" pelo Congresso de substituir Vizcarra, escreveu Aráoz em carta dirigida ao chefe do Legislativo, Pedro Olaechea, que ela divulgou no Twitter.
Na terça-feira (1º), Martín Vizcarra saiu fortalecido ao obter o apoio de milhares de cidadãos, da cúpula militar e dos governadores regionais. Já os congressistas — a maioria de oposição — estão considerando a possibilidade de recorrer ao Tribunal Constitucional (TC) para reverter a medida presidencial, apesar de desconfiarem dos magistrados daquele tribunal, segundo Olaechea.
As principais lideranças políticas no Congresso solicitaram apoio da Organização dos Estados Americanos (OEA) para reverter a dissolução do parlamento, mas o órgão continental respondeu que este era um assunto interno que cabe ao TC. Olaechea disse que tentou, sem sucesso, dialogar com Vizcarra.
— Desde que assumi a presidência (em julho passado), construí pontes para o presidente Martín Vizcarra, mas ele não queria falar porque o Congresso executivo é corrupto, porque os legisladores pertencem a partidos corruptos — afirmou.
Crise antiga
A crise política começou a ser gestada há três anos no Peru, quando o banqueiro Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018) derrotou, com uma margem bem estreita, a populista Keiko Fujimori. Agora, ela se encontra em prisão preventiva pelo escândalo da Odebrecht.
Embora tenha perdido a Presidência, o partido da primogênita de Alberto Fujimori ganhou uma esmagadora maioria no Congresso. Com isso, manteve a pressão sobre Kuczynski até forçá-lo a renunciar em março de 2018. Foi substituído por Vizcarra, que era seu primeiro-vice-presidente. Mercedes Aráoz era a segunda.
Ao contrário de seu antecessor, Vizcarra enfrentou energicamente o Congresso.