Os combatentes curdos abandonaram neste domingo a cidade fronteiriça síria de Ras al-Ain, cercada pelas forças de Ancara, na primeira operação do tipo desde o acordo de trégua no nordeste da Síria, negociado por Washington e que expira na terça-feira.
Anunciado na quinta-feira, o cessar-fogo prevê a suspensão durante 120 horas da ofensiva iniciada em 9 de outubro pela Turquia para permitir a retirada das zonas da fronteira dos combatentes curdos das Unidades de Proteção Popular (YPG), assim como o estabelecimento de uma "zona de segurança" de 32 km de comprimento no território sírio ao longo da fronteira.
Durante a manhã, as forças americanas confirmaram que abandonaram sua base em Serrin - a maior do norte da Síria e próxima da cidade de Kobane - como parte da retirada anunciada há algumas semanas de 1.000 militares, uma decisão que foi explorada pela Turquia para iniciar sua ofensiva.
O ministério turco da Defesa turco confirmou em um comunicado a retirada, ao informar que um "comboio de 86 veículos partiu de Ras al Ain para Tal Tamr".
Na região de Ras al Ain, um repórter da AFP confirmou a saída de um comboio curdo que transportava combatentes - mas também feridos e cadáveres - das Forças Democráticas Sírias (FDS), dominadas pelas YPG.
Mais de 50 veículos, incluindo ambulâncias, deixaram o hospital da cidade.
A poucos metros do hospital, Walid Azza, líder de um grupo sírio pró-Turquia, afirmou à AFP que recebeu informações sobre uma "operação de retirada total" dos curdos.
Não foi possível confirmar se aconteceria um recuo total. Uma fonte curda citou apenas um "plano de retirada".
O comboio chegou a Tal Tamr, mais ao sul, onde os moradores deram as boas-vindas aos combatentes.
A ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) havia informado que 41 corpos - 28 de combatentes das FDS e 13 civis - estavam no único hospital da cidade ou em cemitérios temporários.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que o cessar-fogo prossegue e o secretário americano de Defesa, Mark Esper, citou "confrontos menores que terminaram rapidamente e os curdos estão recuando para novas posições".
O OSDH informou que a trégua é marcada por combates esporádicos e bombardeios ao oeste noroeste de Ras al Ain.
Esta é a primeira vez que os combatentes das FDS abandonam Ras al Ain.
- Retirada americana -
Também neste domingo, mais de 70 veículos blindados com a bandeira americana, repletos de material militar e escoltados por helicópteros, passaram pela estrada internacional na altura da localidade de Tal Tamr.
De acordo com o OSDH, o comboio deixou a base de Sarrin, perto de Kobane, e seguiu para a província de Hasake, ao leste.
Nos últimos dias, os americanos abandonaram outras três bases, incluindo uma em Manbij e outra situada também na área de Kobane, perto da fronteira com Síria-Turquia.
"Agora, todas as bases nas províncias de Raqa e Aleppo não têm mais a presença militar americana", afirmou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahmanel.
O governo turco considera "terroristas" as forças curdas sírias por suas relações estreitas com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), à frente de uma violenta guerrilha contra Ancara.
De acordo com o OSDH, a ofensiva matou 114 civis e deixou mais de 300.000 deslocados. Os combates e bombardeios também provocaram as mortes de 256 membros das FDS e de 196 combatentes pró-Turquia.
A ofensiva turca abriu uma nova frente de batalha no conflito sírio, iniciado em 2011.
* AFP