Hospitais e clínicas da Argentina estão em alerta, depois da divulgação, nesta semana, de casos de brasileiros, bolivianos e argentinos exercendo medicina ilegalmente e sem diploma.
A polêmica começou na última quarta-feira (25), quando o hospital Doutor Angel Marzetti, de Cañuelas, denunciou que dois brasileiros trabalharam no local durante meses como falsos médicos, usando identidade, título e matrícula de dois profissionais da mesma nacionalidade. O centro de saúde afastou de seu quadro outros quatro médicos que apresentavam irregularidades em seus documentos.
Segundo o Colégio de Médicos da Província de Buenos Aires, que concentra um terço da população do país, existem 26 fraudes apenas nesse distrito. O Colégio detectou casos de cidadãos argentinos e estrangeiros que fraudaram suas identidades, não concluíram seus registros ou omitiram a revalidação de seus títulos na Argentina, no caso dos estrangeiros.
Matrícula de aposentada
Entre os casos, destaca-se o de uma médica boliviana que usava a matrícula de uma colega aposentada.
— Quando fomos prendê-la, escapou — contou à AFP o médico Rubén Tucci, presidente do Conselho Superior do Colégio de Médicos da província de Buenos Aires.
Também foi revelado o primeiro dos casos ocorridos na cidade de Buenos Aires, envolvendo um boliviano de 27 anos que não teria estudado medicina e exerceu a profissão de forma ilegal em uma clínica psiquiátrica particular do bairro de Caballito chamada Emanuel.
Um venezuelano de 34 anos também é investigado por usar a matrícula de uma mulher para poder trabalhar nos plantões da clínica Ángel Pedro Salas, localizada no bairro de San Martín, periferia de Buenos Aires.
— Ele chegou a fazer três plantões na clínica. Nós o detectamos, telefonamos para a polícia e ele foi preso — contou Tucci.
— A saúde da população é prioridade para nós, e isto está em risco — assinalou o profissional — É uma irresponsabilidade absoluta dos diretores das clínicas contratar estes tipos de pessoa, porque eles têm apenas que entrar em contato conosco para verificar a documentação de um médico.
Os ministérios da Saúde da nação, da província e da cidade de Buenos Aires ainda não iniciaram investigações oficiais, uma vez que os casos ocorreram em órgãos municipais, embora, ao serem consultados, tenham afirmado que acompanham de perto o assunto.
Controles fracos
— Pode ser que as autoridades estejam preocupadas, porque há muitos lugares onde o controle tem sido muito fraco, e todas as notícias que saírem farão com que todos comecem a investigar, embora não acredite que haja muitos casos — assinalou o médico Carlos Schwartz.
O profissional, integrante do grupo Pacto Argentino pela Inclusão na Saúde (País), disse que "não é raro que os casos detectados envolvam estrangeiros, porque com os países latinos há acordos extremamente fracos, e eles começam rapidamente a exercer. Além disso, são muito mais baratos do que os médicos argentinos. Ao contrário, um médico europeu não pode exercer a profissão na Argentina."
— Quase todos os casos que surgiram historicamente foram de estudantes muito avançados, pessoas que não concluíram o curso por algum motivo e fazem tarefas de prática — indicou Schwartz.