O novo secretário de Estado americano, Mike Pompeo, recriminou a Alemanha, nesta sexta-feira (27), por seus gastos na área da Defesa, os quais, segundo ele, seriam insuficientes, segundo declarações em sua primeira reunião da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Enquanto os ministros das Relações Exteriores da Aliança Atlântica formaram uma frente comum para destacar a necessidade de dar uma resposta à "agressão" da Rússia, Pompeo insistiu em um dos maiores desejos do presidente Donald Trump: que os aliados ponham a mão no bolso.
Foi confirmada a necessidade de continuar com a dupla via seguida pela Rússia, uma mistura de dissuasão militar e diplomacia.
"A Otan continuará com a Rússia com a dupla via", afirmou o secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, em uma entrevista coletiva, após a conversa sobre as relações com Moscou.
"Devemos nos mostrar firmes (no que se refere à Rússia) e uma unidade forte, deixando a porta aberta ao diálogo", frisou.
- Alcançar os objetivos -
Alguns aliados, como a Alemanha, são reticentes em cumprir o compromisso firmado em uma cúpula da Otan em Gales, em setembro de 2016, de dedicar 2% de seu PIB ao gasto militar para 2024.
Ao ser perguntado se a Alemanha está fazendo o suficiente para alcançar esses objetivos, Pompeo afirmou: "Não. Deveriam alcançar os objetivos que acordaram".
"Os países europeus devem se encarregar das responsabilidades necessárias para sua segurança e explicar a seus cidadãos o porquê é fundamental cumprir com as suas obrigações no gasto de Defesa", disse Pompeo a jornalistas após a reunião.
"Seis países da Otan fazem isso, outros nove apresentaram planos críveis de serem cumpridos. Já é hora de os outros 13 membros da Aliança se colocarem nesse nível, especialmente a Alemanha, o maior e mais rico membro europeu da Otan", afirmou uma fonte americana de alto escalão, acrescentando que Berlim não prevê aumento de seus gastos militares para além de 1,25% de seu PIB até 2021.
A declaração de Pompeo coincide com a viagem da chanceler alemã, Angela Merkel, aos Estados Unidos para se reunir com Trump.
- 'Cumprimos com nossas obrigações' -
A crueza de suas declarações contrastaram com o que havia sido dito anteriormente pelo ministro das Relações Exteriores de Luxemburgo, Jean Asselborn, muito mais diplomático.
"Mike Pompeo insistiu evidentemente na necessidade de compartilhar a carga (dos gastos), mas o fez sem nenhuma agressividade. Ao contrário, esteve atento e participou de todas as discussões", declarou à AFP.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, destacou ao chegar à reunião a contribuição de Berlim nos trabalhos humanitários em Síria e Iraque.
Além disso, afirmou que a coalizão de governo de Merkel estava negociando o orçamento, mas não deu a entender que iriam aumentar o gasto de Defesa.
Segundo ele, a Alemanha "tem uma presença extraordinária a respeito da percepção de sua responsabilidade internacional e também de que estamos cumprindo nossas obrigações com a Otan".
- Degelo coreano -
Washington justifica a necessidade de aumentar os gastos usando a ameaça representada pela Rússia, "um fator desestabilizador em Ucrânia, Geórgia e Síria", segundo um responsável americano de alto escalão.
Ex-militar de 54 anos, responsável desde janeiro 2017 pela agência de Inteligência mais importante do mundo, Pompeo pode contar com um forte apoio de Trump, que o qualificou na quinta-feira de "ativo excepcional" para os Estados Unidos em um "momento crítico".
Pompeo foi enviado no final de março para uma reunião secreta com o líder norte-coreano, Kim Jong Un, destinada a preparar o terreno antes da inédita cúpula prevista para o início de junho com o presidente dos Estados Unidos.
Trump saudou nesta sexta-feira a "histórica" reunião entre Kim e o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, enquanto Stoltenberg a chamou de "encorajadora".
As habilidades diplomáticas de Pompeo serão rapidamente colocadas à prova com a aguardada decisão de 12 de maio de Donald Trump sobre o acordo nuclear iraniano, que ameaça "romper".
Os ministros também discutiram os projetos de expansão das missões de formação no Iraque e no Afeganistão, onde 13 mil militares dos países da Otan e de seus aliados continuam mobilizados.
* AFP