Ao abandonar seu último reduto de Duma, em Ghuta Oriental, os rebeldes sírios do Jaish al-Islam libertaram os prisioneiros que estavam em suas mãos, mas centenas deles continuam desaparecidos, incluindo quatro figuras emblemáticas da revolta contra Bashar al-Assad.
Os militantes Razan Zeitouné, Waël Hamada, Samira Khalil e Nazem al-Hamadi foram sequestrados em dezembro de 2013 por indivíduos não identificados quando estavam nos escritórios de uma organização em defesa dos direitos humanos em Duma.
Apelidados de os "Quatro de Duma", tiveram um papel importante no alçamento contra o governo de Bashar al-Assad, provocado em 2011 pelas manifestações pró-democracia. Também documentaram os abusos do grupo Jaish al-Islam na cidade, que foi tomada em 2012 pelos rebeldes.
Nesses últimos dias, os insurgentes liberaram cerca de 200 detidos em virtude de um acordo de evacuação imposto pelo governo e seu aliado russo. Mas centenas de prisioneiros ainda não apareceram. Os "Quatro de Duma" tampouco.
"Agora mesmo não sabemos onde estão. E agora que o Jaish al-Islam quase entregou Duma ao governo, e que não há nenhuma novidade, temos ainda mais medo", confidencia o irmão de Waël Hamada, Bassel.
Após seu sequestro, os moradores apontaram para o Jaish al-Islam, que negou qualquer envolvimento.
"Há uma sensação de impotência. Enviamos cartas a países, embaixadores, dirigentes, reis", lamenta Bassel Hamada.
- 'Não vê-los nunca mais' -
Durante anos circularam diferentes boatos sobre o destino dos quatro ativistas: que estão mortos, que foram levados a outro lugar, que foram entregues ao governo em troca de prisioneiros rebeldes.
"Acho que não os verei nunca mais. Espero que não seja assim, que ainda estejam aqui e sejam libertados. Mas a razão me diz que foram eliminados, ou que estão com o governo", acrescentou Bassel Hamada.
Dezenas de milhares de pessoas estão desaparecidas na Síria, devastada por uma guerra mortal enfrentada por múltiplos beligerantes, todos acusados de abusos, tanto o governo como os rebeldes e extremistas do grupo Estado Islâmico (EI).
Graças a uma violenta e devastadora ofensiva lançada em meados de fevereiro, mas também a acordos de evacuação, o governo conseguiu reconquistar Ghuta Oriental.
Os rebeldes entrincheirados em Duma foram os últimos a se submeter à tormenta de fogo do governo, e libertaram detidos que puderam se reunir com suas famílias.
- 'As esperanças se esvaíram' -
Os rebeldes sequestraram centenas de civis e soldados em dezembro de 2013 na localidade operária de Adra, a nordeste de Damasco, e depois os levaram a Ghuta Oriental.
Assad se reuniu com as famílias dos desaparecidos para assegurar seu apoio. "Não abandonaremos nenhum dos desaparecidos ou sequestrados. Se algum deles continua vivo, libertaremos sem importar o preço".
As associações de defesa dos direitos humanos não deixam de pedir a libertação de todos os detidos, incluindo os "Quatro de Duma".
Consultados pela AFP, a Anistia Internacional, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e o Human Rights Watch (HRW) disseram não ter nenhuma informação sobre os quatro desaparecidos.
Várias ONGs, incluindo o Centro de Documentação de Violações, onde trabalhavam os quatro militantes no momento do sequestro, fizeram um chamado conjunto na semana passada para obter informações, assim como o marido de uma das desaparecidas, Samira Khalil.
"Teria preferido uma dissolução do Jaish al-Islam, que desembocaria na libertação de Razan, Waël e Nazem", escreveu Yassin al-Haj Saleh, escritor e dissidente sírio. "Mas essas esperanças se esvaíram", disse.
* AFP