Voluntários usando trajes espaciais se estabeleceram esta semana no deserto de Omã para realizar pesquisas e simulações das condições de vida no Planeta Marte.
Patrocinado pelo sultanato de Omã e com o apoio de empresas e universidades, o programa AMADEE-18 lançado nesta quinta-feira foi organizado pelo Austrian Space Forum.
Esta missão acontece quando o bilionário americano Elon Musk acaba de lançar ao espaço o foguete atualmente mais potente do mundo, um feito que constitui uma etapa para o transporte de humanos a Marte.
De retorno à Terra, em um remoto lugar do deserto de Dhofar, pesquisadores, profissionais do espaço e apaixonados pela ciência se reuniram para fazer avançar o AMADEE-18.
Em um campo sob a proteção das forças armadas locais, são realizadas experiências como cultivar verduras frescas em estufas de plástico ou fazer rodar veículos autônomos por terrenos sinuosos.
Os participantes também dirigem veículos com baterias solares para concretizar outras experiências realizadas por pesquisadores universitários.
O campo de construções pré-fabricadas, cuja maior parte foi instalada por uma comissão omani antes da missão: banho quente, ar condicionado, um gigantesco iglu inflável e um labirinto de habitações servidas por um gerador 24 horas por dia.
O Austrian Space Forum não dispõe de foguete como Elon Musk, mas seus membros -alguns dos quais trabalham no setor espacial- compartilham a mesma vontade de inovar fora das estruturas dos programas espaciais nacionais, extremamente rígidos.
- Local especial -
O presidente do Fórum, Alexander Soucek, diz que seus colegas estão conseguindo um lugar especial com as simulações de Marte e que estão em condições de realizar suas investigações com mais flexibilidade e agilidade.
"A maior parte do dinheiro que usamos não é dos contribuintes. Temos patrocinadores na indústria privada. Coletamos dinheiro, criamos associações e convidamos as pessoas a juntar forças", disse ele à AFP.
O Fórum não tem uma posição oficial sobre exploração e mineração no espaço, mas Soucek acredita que as futuras missões aproveitarão o que acharem.
"Uma vez que chegarmos e vivermos em Marte, teremos que usar os recursos que encontramos lá, pois não seremos capazes de tirar tudo da Terra, é o que se chama uso de recursos 'in situ'. Por tanto, teremos que utilizar o que encontramos: primeiro para manter a vida no local, depois para apoiar as missões e, a longo prazo, talvez para outras coisas".
Desde 2015, os Estados Unidos, sob a presidência de Barack Obama, e depois o Luxemburgo estão na vanguarda do que se chama a nova corrida ao espaço, criando marcos legais que toleram a exploração mineradora.
A União Europeia (UE) ainda não se posicionou, uma vez que os seus membros têm divergências a este respeito.
"Você pode simplesmente ir e aproveitar os recursos ou não", de acordo com Soucek. "Há alguns problemas a serem resolvidos do ponto de vista técnico, econômico e político, mas, como sempre no espaço, trata-se de ficção científica. Talvez amanhã seja sobre a realidade", acrescenta.
Os astronautas voluntários da AMADEE-18 dizem ter observado o lançamento da Falcon Heavy com admiração, mas têm diferentes pontos de vista sobre suas implicações, bem como a comercialização do espaço.
"Você não pode reivindicar a Lua ou os asteroides, uma vez que a exploração entra em uma espécie de vácuo jurídico", diz João Lousada ao colocar um exoesqueleto simulando a pressão com a ajuda de três técnicos.
De volta de uma expedição motorizada no deserto, Kartik Kumar, especialista em detritos espaciais, reflete sobre o papel e a responsabilidade dos viajantes espaciais.
"Nunca devemos esquecer que, explorando nosso próprio planeta e o sistema solar, devemos assumir nossa responsabilidade, particularmente a ética", diz ele.
"Devemos encontrar um equilíbrio entre colocar o pé em Marte e reconhecer que é uma herança comum e preservá-lo para as gerações futuras", acrescenta.
* AFP